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Pais em Ação | Adaptação escolar: como lidar com o afastamento e inseguranças

Nós já conversamos aqui sobre a volta às aulas e demos várias dicas. No entanto, a adaptação escolar – assunto tão sensível para muitas famílias – precisava ser aprofundado. Por isso, nossa colunista Daniela Nogueira, do Pais em Ação, traz uma reflexão importante sobre o tema. Confira:

adaptação escolar

Foto: Rodnae Productions on Pexels

Adaptação escolar com calma e respeito

Mãe e bebê irão enfrentar um grande passo, a separação! Como professora em São Paulo e no Rio de Janeiro, eu participei deste processo tão importante na vida familiar. Na época, eu não tinha filhos ainda e por mais que eu já tivesse um olhar de respeito para o bebê e sentisse empatia pela angústia das mães, hoje consigo ver que eu não sabia realmente o que elas estavam passando.

Eu as confortava, acolhia, mas não tinha a vivência para compreender o incompreensível: quão avassalador pode ser separar-se da sua cria mesmo que, racionalmente, você sabe que tudo vai ficar bem. Hoje quero escrever sobre o tema com uma visão mais madura e também mais profissional. Não apenas me tornei mãe, mas também me aprofundei no estudo da primeira infância e numa abordagem que busca pensar em como acolher melhor uma criança pequena num ambiente que não é a casa dela.

Vou começar com uma frase que ouvi da Agnès Szanto: “A criança vive na família uma história e na escola, um capítulo”. Quando um bebezinho chega na escola, que escola chega para este bebê? É um local emocionalmente acolhedor, fisicamente seguro e cognitivamente apropriado? Tem uma professora curiosa e pronta para entrar numa relação? Não dá para fugir disso: adaptar é fazer vínculos! O bebê encontrará perguntas ou ordens? Mãos e rostos carinhosos ou pressa de fazer e acontecer?

A criança é da família. É ali que ela se sente pertencendo, então quando se propõe uma parceria escola-pais, é importante que os pais entendam que a escola não tem todas as respostas e que precisa de ajuda para conhecer quem é o filho deles. É igualmente importante escutar os pais, pois para acolher o bebê é necessário acolher os pais e dar oportunidades para que falem do filho e assim construam juntos um olhar compartilhado sobre o bebê e seu desenvolvimento particular. Isso leva tempo.

Mas quanto tempo?” Já me perguntaram várias pessoas. Para entender que não existe resposta padrão é preciso compreender que não existe “a criança padrão”. Existe a Carolina, existe o Pedro, o Benjamin, a Olivia… E que cada uma destas pessoinhas conseguirá explorar o mundo (a escola) quando o medo do desconhecido for neutralizado – e isto acontece quando se estabelecem relações afetivas seguras para que pouco a pouco a criança se abra para o novo.

Como pode haver espaço para o novo ou para aprender quando não nos sentimos seguros? A figura da professora de referência é essencial aqui – é ela que irá começar com seu filho uma relação. Aliás, chamá-la pelo nome e não de “tia” ajuda a individualizar ainda mais a relação dela com o seu bebê. Falar dela e da escola de forma positiva e confiante ajuda o bebê a sentir segurança. Assim como chamar a mãe pelo nome ajuda a construir uma conversa entre dois adultos e não deixa esta mãe apenas na função maternal.

Para algumas mães é essencial o exercício de se manter consciente para não misturar ou projetar as próprias angústias com as vivências que ela vê o filho ter ali durante o período de adaptação. Lembrem-se de que é preciso dar espaço ao bebê e passar confiança na instituição que você escolheu. Já vi momentos em que foi mais difícil para a mãe falar tchau do que para o bebê e vi também situações onde a adaptação foi sabotada por conta disso.

Mães, lidem com seus sentimentos sejam eles quais forem, pois assim vocês ajudam seus filhotes. Se preciso, procurem ajuda. Não existe regra de dias de adaptação e como bem disse Myrtha Chokler, o primeiro elemento de desrespeito acontece ao dizer “a esta altura fulano já deveria estar adaptado” – uma criança não nasce “devendo estar” nada!

Assim como os adultos, as crianças pequenas também têm seus altos e baixos, um dia estão mais seguras, outros menos e assim vamos seguindo tentando oferecer à elas uma parte da segurança que elas têm em casa. Mas como? Num primeiro momento o bebê ainda precisa da mãe (ou outra pessoa quando a mãe não pode adaptar) para sentir-se seguro.

Afinal, como construir segurança na insegurança (sem a mãe)? Mas depois, com sensibilidade e tempo, ele vai entender que pode SIM estar seguro mesmo a mãe estando longe. Mas este é um segundo momento, quando a professora foi criando laços com seu filho e ele fez um vínculo com ela. Isso é adaptar. Uma arte, a arte de aguardar.

Foto: Yan Krukov no Pexels

O papel de professores e escolas na adaptação escolar

Gostaria de trazer mais detalhes que podem ajudar neste processo. Talvez este texto interesse mais aos profissionais da área, mas é importante que os pais saibam os motivos pelos quais a escola faz o que faz. No começo da vida escolar os esforços da equipe estão voltados para criar vínculos e ajudar a criança a unir as experiências que ela tem em casa ali no coletivo.

Isto não é brincadeirinha, distração, etc. Quando trabalhamos com a primeira infância, estamos à serviço de uma construção social e psíquica bem sólida e isto é muito sério. É através dos cuidados da professora que a criança vai sentir-se segura para estabelecer relações com o grupo não só durante a adaptação, mas também na vida em coletividade e a professora encarnará a segurança das crianças.

A creche/pré-escola é um lugar para aprender a viver e conviver e ali vai acontecer a socialização primária da criança. É por isso que sempre escrevo que a pessoa que ESCOLHE esta profissão tem o DEVER de estudar e aprofundar-se no desenvolvimento infantil, suas relações em grupo e como se fazer presente na vida das crianças sem passar por cima delas, sem exigir delas aquilo que não estão prontas para dar. Requer estudo e supervisão. Enquanto enxergarmos a profissão da primeira infância como um trabalho menor ou menos importante, estaremos estagnados na educação do país.

Se uma criança estiver com dificuldades de estar na escola ou no grupo é importante dar acolhimento, ter compaixão e empatia por ela, que ainda está em desenvolvimento. Dizer: “você não está na sua casa e aqui as coisas não são assim” não ajuda um aluno, isto o divide internamente ainda mais. Ajudar alguém a se adaptar a um novo ambiente não precisa ser feito de maneira tão opositiva, tão radical.

Precisamos unir as experiências ’casa-escola’ e não separá-las. É muito difícil para a criança escutar frases deste tipo, isto a deixa ainda mais angustiada e pode a desorganizar psiquicamente. Percebem a delicadeza desta profissão? É importante ser dócil mesmo diante dos momentos mais difíceis. Não devemos tentar calar o choro, mas trabalhar na causa dele, encontrar recursos para ajudar a criança a sentir que ela está segura e que poderá ser feliz e competente.

Para isso devemos nos manter bem presentes, narrar algumas situações ajuda o profissional a não se desligar e divagar mentalmente enquanto cuida da criança. Porém, na hora livre, que todos os bebês e crianças devem e merecem ter, a profissional precisa saber estar presente sem interromper, disponível sem intromissão. A grande protagonista é a criança, não a professora.

Já vivi momentos no tanque de areia onde poderia estar cantando e batendo palmas, “mostrando serviço”, mas quanto desrespeito teria sido! Anos atrás, na adaptação de uma pequena estrangeira, que não falava nem inglês muito menos português, aprendi como o silêncio, os olhares e a gentileza podem tocar muito mais o coração de uma criança.

Durante uma rodinha de leitura, ela preferiu virar-se de costas para o grupo e segurava um livro de ponta cabeça. Eu poderia ter “incluído” ela de volta na roda, mas isso não teria sido uma inclusão e sim um afrontamento à dificuldade que ela estava sentindo de estar ali. Poderia ter virado o livro na posição correta para lhe mostrar “como se faz” ou mostrar que eu me importava com ela, mas isso teria sido um desrespeito ao trabalho mental que ela está desenvolvendo.

Num breve momento em que trocamos olhares, ela me deu um sorriso, um laço foi criado. Sem barulho, sem estardalhaço, só com respeito. Mesmo quando aos olhos de quem passasse por aquela sala tudo parecesse ao contrário! Com este relato, espero finalizar o post mostrando como é importante debatermos esses assuntos, como se faz necessário o apoio não só à criança, mas ao professor. Precisamos nos fortalecer e isso acontece estudando e dividindo experiências!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
ColunasPais em Ação

Pais em Ação | Como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa?

Na primeira coluna do ano, Daniela Nogueira, do Pais em Ação, reflete sobre um desafio das famílias: como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa? O desafio de estar presente, criar laços e participar ativamente da vida dos filhos parece ainda maior quando precisamos passar cada vez mais horas trabalhando. Como organizar isso? Quais os efeitos dessa dinâmica para as famílias? Confira:

Foto: Vlada Karpovich no Pexels

Os filhos precisam da presença dos pais

Vivemos numa cultura que afasta os pais dos filhos e dificulta para a sociedade o cuidado dos nossos pequenos (e grandes) como eles merecem. O trabalho tem engolido os pais, as escolas só faltam oferecer dormitórios, o mundo virtual encanta e entorpece e, para adicionar pressão, existe uma ideia atualmente de que criança tem mais é de estar com outras crianças o máximo de tempo possível. Não tem não. Não o máximo de tempo. Crianças e adolescentes ainda precisam muito da influência e companhia de seus pais.

“O real problema da humanidade é o seguinte: temos emoções paleolíticas, instituições medievais e uma tecnologia divina”, disse Edward O. Wilson. Isto que dizer que para o cérebro humano e suas relações, não importam a mensalidade escolar, o device tecnológico e quão distraídas as pessoas estão. O bebê humano ainda é o mais imaturo das criaturas e precisa de adultos em volta, principalmente seus pais.

Não somos mais uma sociedade de caçadores e coletores, mas nosso cérebro ainda funciona assim. Se você não cuidar do seu bebê humano, ele, que foi gerado para fazer apego, irá se apegar em outro lugar – este lugar tem sido, para muitos, o grupo de amigos e a internet. Só pode dar erro! A relação de dependência que uma criança vive precisa de um adulto numa posição Alpha sobre ela, que banque o que significa amar e cuidar.

Uma outra criança ou adolescente não terão o que é preciso para bancar isto para o seu filho e é aqui onde tudo desanda. Ao mesmo tempo somos atolados por informações dizendo que nada é mais importante para o desenvolvimento do seu filho quanto uma boa escola (de preferência bilíngue), cada vez mais cedo e claro, o grupo de amigos. Só que os que pregam isso não levam em conta a evolução humana, sua psiquê e a teoria do apego.

Pais desatentos estão perdendo seus filhos dentro de casa e dentro das escolas. Estamos criando uma geração de abandonados domésticos. Encorajo vocês a lerem o livro “Agora não Bernardo” de David McKee, pois apesar de ser um livro infantil, ele nunca foi tão propício aos pais.

A importância do apego na família

Em nossa cultura há uma intensa preocupação dos pais com os filhos no que diz respeito à eles “pertencerem” ao grupo de amigos. Porém, ao estudarmos a relação de attachment e suas funções na vida de um indivíduo, vemos que a criança e mesmo o adolescente, precisa, antes de mais nada, pertencer aos pais. Entendam o sentido do pertencimento não como os pais sendo os donos da criança, mas como nós sendo os grandes provedores de significado, de mostrar-lhes o quanto são importantes, de sentir conosco uma sensação de unidade.

Isto tem de vir de nós, pois se vier do grupo – que será tão imaturo quanto seu filho, ele estará sujeito à cancelamentos e rompimentos a cada erro cometido, e isto é uma receita pronta para criar pessoas inseguras. Então, antes de pensar sobre o grupo, pense sobre o relacionamento do seu filho com você. Temos de cuidar do apego que nossos filhos têm conosco.

Isso mesmo, que ELES sentem, que eles têm conosco – nosso trabalho é que eles sintam que nós somos o porto seguro, nós não cancelamos, nós não rejeitamos. Até que eles estejam formados, somos nós a fonte mais importante de conexão deles.

Quem cuida é o alpha, que provê, e a criança é a que depende e busca por nós. Entendem a importância de um bebê até um adolescente continuar se sentindo cuidado? Ele não precisará buscar apego em outro lugar – que muitas vezes não terá cuidados para dar. O apego e intimidade emocional cria um escudo onde é seguro para a criança liberar e sentir seus mais profundos sentimentos. Nossa cultura já não cuida mais desta questão, a vila se espalhou e se despedaçou, então precisamos nós mesmos nos atentarmos para este assunto.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Crianças são pessoas e merecem respeito

Na coluna de hoje, Daniela Nogueira, do Pais em Ação traz uma reflexão importante: crianças são pessoas. O que isso implica? Quando deixamos de ver nossos pequenos como pessoas? Por que esperamos certos comportamentos deles que não são compatíveis com sua realidade? Esses e outros pontos são abordados por Daniela na coluna. Confira:

Foto: Andrea Piacquadio no Pexels

CRIANÇAS SÃO PESSOAS

Desde o primeiro dia! Elas não precisam crescer primeiro para só depois merecerem nosso respeito, “de gente grande para gente grande” – criança é gente desde sempre.

Elas são literalmente nosso futuro. Se você maltrata hoje, colhe amanhã.

Por favor, abra sua mente para entender que, se ferir uma criança – ignorar, bater, punir – não irá fazer deste mundo um lugar melhor. Pois acredite, muitas crianças passam por isso diariamente há séculos. Ainda assim, temos sempre a impressão de que o mundo anda ficando pior, de que as pessoas se tornaram frias, de coração duro e não sabem amar.

Ainda assim, os humanos nascem, crescem, dão a luz à novos humanos e a birra, a manha, a impulsividade e a imaturidade permanecem. Será que não é tempo de pensar que se as estratégias de “desprezoterapia”, cantinho do pensamento, retirar brinquedos, punir e bater em crianças funcionassem, todas as birras e comportamentos afins já teriam cedido?

Caros pais, a criança faz birra não porque ela não tem limites, não porque você não os educa, mas simplesmente pelo fato de ser criança! De não ter todo o cérebro pronto para usar.

A imaturidade se parece muito com a falta de respeito e as birras na infância. O errado não é a criança fazer birra, o errado é não entender que o ser humano leva TEMPO para aprender a se controlar, se regular e seguir regras sem ter uma explosão de impaciência, frustração e inflexibilidade.

Ah, tão pouco tem a ver de que classe social a criança é, se ela é criada pela avó, mãe solteira ou dois pais: crianças humanas fazem birras. Umas mais, outras menos, depende do temperamento delas.

Criança já nasce gente, mas precisa de anos para se socializar e ser capaz de escutar um não sem berrar. Devemos sim falar ‘não’ para elas! Já conversamos aqui sobre as diferenças da disciplina e do castigo. Só não precisamos criar a falsa expectativa de que elas já são adultas para saberem como lidar. Só não precisa ser grosseiro, frio e massacrar. De novo o problema não é o berro, mas o que você faz com ele: cede ou educa? Cala ou bate? Ignora ou ajuda?

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Rejeição: como apoiar e fortalecer as crianças rejeitadas

Rejeição não é algo fácil de encarar, mesmo na fase adulta. Para os pequenos, o desafio é maior: estão descobrindo esse sentimento, seus impactos e vivendo tudo pela primeira vez. Por isso, cabe aos pais e educadores saber como apoiar os pequenos para que eles se fortaleçam apesar do cenário negativo. Nossa colunista, Daniela Nogueira, reflete sobre o tema na coluna de hoje. Confira:

Foto: Norma Mortenson no Pexels

Rejeição e autoestima

Recentemente uma mãe entrou em contato comigo pedindo ajuda com um assunto que é muito doloroso para qualquer ser humano: a rejeição. Se dói na gente, imaginem ver o filho nesta situação?

É um daqueles momentos onde a mãe educadora deve prevalecer à mãe protetora e com grande sacrifício guardamos para mais tarde os sentimentos de coitadinho (leia-se: isso deve ficar entre nós adultos) e nos embuímos de coragem e poder. Nosso papel como pais não é o de ir até lá e resolver os problemas dos filhos, mas, sim, de preparar as crianças para lidarem com as situações sociais que a vida traz.

Em primeiro lugar, nossa atitude ao ver ou escutar, deve ser a de empoderamento da criança rejeitada. Tomando cautela para não colocá-la no papel de “pobre coitada”: superprotegendo-a e nem a bajular com elogios vazios. Usar o encorajamento ao lidar com as emoções ao invés de tentar alegrar logo a criança mostra que apesar de dolorida, a rejeição e outros problemas, podem ser manejados.

Vou começar com a autoestima. Ser rejeitado é algo que abala qualquer um, porém quando a autoestima vai bem e a criança tem forte a crença de que ela tem valor mesmo quando as coisas não dão certo, ela passará pela dor da rejeição, irá processar estes sentimentos e sair deles com dignidade. Não dá para excluir a parte ruim da vida, não conseguiremos estar atrás dos filhos a vida toda, mas podemos criá-los bem!

Autoestima não se compra nem dá pra emprestar, é algo que vamos trabalhando nos pequenos no dia a dia, especialmente em duas situações: quando eles fazem algo errado ou algo muito bom. Seu filho precisa saber que mesmo cometendo um erro ele é digno: de respeito e de ter outra chance.

Precisa saber que errar, derrubar algo, perder a compostura, bater, ir mal na prova da escola, fazer xixi na cama, ser rejeitado no play do prédio, NADA disso muda a pessoa que ele é e que a está se tornando. Na semana passada, nós conversamos sobre os elogios e como usá-los corretamente!

Foto: Josh Willink

Rejeição e empatia

Outra maneira de ajudar o filho ou o aluno que está sofrendo por causa de uma rejeição é oferecer empatia. Palavra tão comentada atualmente e que tem um significado profundo e transformador. Hoje em dia são muitas as fontes de informações destinadas aos pais sobre validar o sentimentos dos filhos e ajudar a nomeá-los, porém durante os aconselhamentos que faço, os pais relatam não saber o que fazer ou que não têm conseguido alcançar um lugar de tranquilidade com o filho.

Oferecer empatia vai além de se colocar no lugar da criança, de tentar compreender o que ela está sentido e dar um nome a esse sentimento: empatia também requer aceitação. A aceitação completa e genuína de que neste momento as coisas não vão bem na vida da criança e consequentemente, na nossa.

Os sentimentos (e o motivo que os causa) são o que são e aceitá-los significa que iremos lidar com eles ao invés de tentar fazê-los desaparecer. Os sentimentos têm começo, meio e fim; não há raiva, tristeza e nem alegria que dure pra sempre, com isso em mente fica mais fácil resistir à tentação de tentar livrar a criança (e nós mesmos) de passar por um momento ruim, no caso a dor e o desconforto da rejeição.

As crianças são extremamente inteligentes e seres humanos com alta sensibilidade, sabem quando estamos aflitos, com pressa de resolver as questões e este é o ponto que quero chegar sobre a empatia. Ela precisa ser praticada com autenticidade. Não adianta só falar “Poxa, você está triste” na esperança e na intenção que o choro passe, que a dor vá embora logo. Elas sentem isso e muitas vezes o tiro pode sair pela culatra, podem ficar ainda mais chateadas e frustradas.

Isso porque não se pode usar a empatia como uma técnica. Ela só funciona genuinamente! Pois na verdade o que está em jogo não são as palavras dos pais ou professores, mas, sim, a CONEXÃO emocional. Outro ponto importante é sobre COMO ajudar a nomear os sentimentos, pois nesta hora acontecem muitas projeções dos pais em cima dos filhos.

É essencial que a gente diga “você PARECE triste” e deixe um silêncio, um tempo de resposta para o que o filho confirme se é tristeza que ele estava sentindo ou se na verdade era raiva, por exemplo. Dê o seu melhor palpite e deixe a criança confirmar ou te corrigir. Muita hora nessa calma. Perdoem o trocadilho!

Oferecer empatia ensina às crianças que elas têm condições internas e externas para lidar com os altos e baixos da vida. Esse sentimento de empoderamento é que vai ajudar a criança durante a rejeição e como eu disse anteriormente, isso é feito no dia a dia e não na hora que riram do seu filho e ele não participou da brincadeira no pátio.

Continuando, uma vez que a gente acertou o que o pequeno está sentindo, podemos descrever a mágoa: “você estava contando que iam te chamar para brincar. Você queria que os amigos fossem mais gentis e legais.” Valide/reconheça os sentimentos e a situação, seja sincero e genuíno, não tente disfarçar a rejeição: “É difícil ser deixado de fora. É duro passar por isso/ É horrível quando riem da gente.”

E aqui vem a chave de ouro: “Você pode lidar com isso.”.

Neste momento, se conecte com a criança, eu usava muito a respiração com meus alunos. Respirar profundamente acalma a ansiedade e o stress, diminui a pressão arterial, relaxa os músculos, etc. Conte com a respiração nessas horas e durante o dia a dia também para que no momento de dificuldade a criança já esteja habituada a respirar profundo e esse é um presente que ela levará consigo para o resto da vida!

E poderá usar quando nós não estivermos lá para ajudar, por isso lembrem de praticar. Se a criança aceitar, ofereça um abraço. Se durante tudo isto seu filho chorar ainda mais, saiba que vocês estão no caminho certo. Chorar lava a alma, cura feridas, alivia angústias e a empatia e nosso apoio ajudam a criança a se apropriar dos problemas da vida dela e lidar com a realidade. Isto as coloca numa posição mais saudável e com mais poder para seguir em frente solucionando os problemas que aparecem.

Foto: Artem Podrez no Pexels

Rejeição e autorreflexão

Quero falar da importância de ajudar a criança a fazer uma autorreflexão! Ajudá-la a pensar sobre o que ela mesma pode estar fazendo que, de alguma forma, contribui para afastar os colegas e também o que ela pode fazer para mudar isso.

Vou dar um exemplo que aconteceu em sala de aula anos atrás com uma garotinha de 3 anos e meio. Ela era simpática, autêntica e inteligente, mas não se interessava por alguns aspectos de aparência e higiene que já incomodavam os colegas dessa idade. Vivia com o dedo no nariz ou com as mãos molhadas de terem sido postas na boca e o cabelo desgrenhado.

O que aconteceu é que após repetidas vezes sendo rejeitada para dar a mão nos deslocamentos pela escola, nas brincadeiras do pátio e trabalhinhos de mesa, ela finalmente veio falar comigo: “Dani, ninguém quer dar a mão pra mim!” e lá ia o dedo pra dentro do nariz!

Me lembro da nossa conversa: “Eu sei o porquê! Seus amigos gostam de você, o problema é que ninguém gosta de caca de nariz! Nem de mão molhada de baba. Eu mesma quero dar a mão pra você para irmos para a biblioteca, mas não quero encostar no dedo que foi no nariz. Seus amigos são crianças pequenas também, mas já percebem essas coisas. Eles gostam de mãos limpinhas.”.

Ela abriu um sorriso enorme, acho que ficou aliviada. Trabalhem isso no dia a dia com as crianças, a aparência geral bem cuidada é respeito com o próprio corpo e também com os outros. Ali começou um processo para essa garotinha em busca de suas amizades e no entendimento de algumas regras sociais.

Outros exemplos sobre ajudar a criança a olhar para ela mesma como participante do que acontece à sua volta são quando o filho/aluno fala certas coisas que magoam os colegas, quando cometem o “sincerocídio”. As crianças não aceitam de bom grado certas ofensas em grupo, é importante ensinar que devemos ser verdadeiros mas acima de tudo devemos ser humanos!

Junto com a famosa lição de não falar mentiras, nós educadores temos o dever de ensinar que não se deve falar tudo que se pensa em certas ocasiões ou corre-se o risco de perder alguns colegas e atrair a antipatia. Não é porque as crianças são pequenas que elas deixam de se encaixar nas regras de bom senso e convívio social. E o modo como se fala representa um espaço enorme em como os outros recebem nossas palavras. Vale a pena trabalhar isso com os pequenos.

Atitudes que também chateiam crianças e com isso elas podem excluir um colega são: exibir-se demais, contar vantagem o tempo todo, reclamar de tudo, humor fora de hora e, principalmente, não entender e não respeitar o sinal de que o colega não está gostando. Ter a percepção que o outro não gostou é essencial na vida.

Como vocês podem ver são sutilezas de alto impacto e que desenvolvem responsabilidade pessoal e empatia. Lembrem-se de acolher estas crianças usando compaixão e fornecendo a elas as habilidades que depois poderão usar sozinhas.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Elogios: como usá-los corretamente?

A Dani Nogueira, do Pais em Ação, traz hoje uma reflexão sobre os elogios. Como devemos elogiar os pequenos? Elogiar demais pode ser um problema? Leia a coluna e veja mais sobre o ponto de vista da nossa colunista:

Foto: Josh Willink no Pexels

O elogio como uma recompensa preciosa

Usado de maneira assertiva o elogio é um meio poderoso de aumentar a chance das crianças repetirem boas ações. Elogios são recompensas preciosas para os pequenos desde que não se tornem vazios de significado, ditos a todo momento e a qualquer oportunidade.

Acho importante dizer aos pais que autoestima saudável NÃO se constrói com elogios, mas sim com nossas ações diárias de respeito pela criança, sua autonomia e tudo o que envolve sua vida. Então como elogiar de modo produtivo e educativo? Aqui vai a regra de ouro: Elogie o COMPORTAMENTO ou a atividade específica que aconteceu e não a criança.

Por exemplo: depois que o filho guardou os brinquedos no lugar, faça um elogio descritivo: “Uau, a sala ficou toda arrumada! Você fez um ótimo trabalho guardando os brinquedos no lugar!”. Esta frase tem mais informação, mais direção do que fazer novamente e é mais eficaz para os filhos do que dizer generalizações vazias de conteúdo, como: “Que princesa linda você é!” ou “Que menino bonito, guardou tudo!”.

O motivo é que sendo descritivo os pais oferecem no elogio informações que ajudam e orientam a criança a ampliar sua confiança. E, dessa forma, alcançar novos patamares de competência.

Como elogiar para incentivar

Imagine a situação do pai assistindo o jogo de futebol do filho. Quando o garoto marcou o gol e foi comemorar com o pai este lhe disse: “Muito bem filho, você chutou a bola no canto do gol na hora certa!”. Essas palavras reforçam à criança as ações corretas que ela fez, vão ajudá-la a se lembrar disto no próximo jogo e, assim, com confiança, adquirir novas aptidões.

E se o pai tivesse dito:”Aê filhão, você é o melhor! É um campeão mesmo, o próximo Lionel Messi do mundo!”? Estudos (Carol Dweck) sugerem que uma vez que as crianças tenham internalizado esse tipo de elogio, elas verdadeiramente acreditam que são “o máximo” naquilo em que foram elogiadas. Isso faz com que se esforcem menos para a tarefa na próxima vez (afinal, se elas já são “naturalmente” talentosas, para que se esforçar?) e elas ainda tentam evitar tarefas mais desafiadoras que empregam essas habilidades no futuro com medo de não corresponderem às expectativas.

Para facilitar o elogio descritivo, pense num verbo, por exemplo: “obrigada por ter emprestado seu brinquedo” ou “você fez seu dever de casa com muito capricho e atenção, ficou muito bom!” ou “Gostei que você jogou seu palito de sorvete no lixo!”.

Atenção ao extremismo tão comum na parentalidade: não é pra deixar de elogiar autenticamente o filho, o motivo de aprender mais sobre elogios e desenvolvimento infantil é para nos ajudar na tarefa de criar pessoas saudáveis, autônomas de pensamento e ações e livres para agir no mundo sem medo de errar ou perder sua autoimagem por conta dos riscos que decidem tomar.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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