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Pais em Ação | Rejeição: como apoiar e fortalecer as crianças rejeitadas

Rejeição não é algo fácil de encarar, mesmo na fase adulta. Para os pequenos, o desafio é maior: estão descobrindo esse sentimento, seus impactos e vivendo tudo pela primeira vez. Por isso, cabe aos pais e educadores saber como apoiar os pequenos para que eles se fortaleçam apesar do cenário negativo. Nossa colunista, Daniela Nogueira, reflete sobre o tema na coluna de hoje. Confira:

Foto: Norma Mortenson no Pexels

Rejeição e autoestima

Recentemente uma mãe entrou em contato comigo pedindo ajuda com um assunto que é muito doloroso para qualquer ser humano: a rejeição. Se dói na gente, imaginem ver o filho nesta situação?

É um daqueles momentos onde a mãe educadora deve prevalecer à mãe protetora e com grande sacrifício guardamos para mais tarde os sentimentos de coitadinho (leia-se: isso deve ficar entre nós adultos) e nos embuímos de coragem e poder. Nosso papel como pais não é o de ir até lá e resolver os problemas dos filhos, mas, sim, de preparar as crianças para lidarem com as situações sociais que a vida traz.

Em primeiro lugar, nossa atitude ao ver ou escutar, deve ser a de empoderamento da criança rejeitada. Tomando cautela para não colocá-la no papel de “pobre coitada”: superprotegendo-a e nem a bajular com elogios vazios. Usar o encorajamento ao lidar com as emoções ao invés de tentar alegrar logo a criança mostra que apesar de dolorida, a rejeição e outros problemas, podem ser manejados.

Vou começar com a autoestima. Ser rejeitado é algo que abala qualquer um, porém quando a autoestima vai bem e a criança tem forte a crença de que ela tem valor mesmo quando as coisas não dão certo, ela passará pela dor da rejeição, irá processar estes sentimentos e sair deles com dignidade. Não dá para excluir a parte ruim da vida, não conseguiremos estar atrás dos filhos a vida toda, mas podemos criá-los bem!

Autoestima não se compra nem dá pra emprestar, é algo que vamos trabalhando nos pequenos no dia a dia, especialmente em duas situações: quando eles fazem algo errado ou algo muito bom. Seu filho precisa saber que mesmo cometendo um erro ele é digno: de respeito e de ter outra chance.

Precisa saber que errar, derrubar algo, perder a compostura, bater, ir mal na prova da escola, fazer xixi na cama, ser rejeitado no play do prédio, NADA disso muda a pessoa que ele é e que a está se tornando. Na semana passada, nós conversamos sobre os elogios e como usá-los corretamente!

Foto: Josh Willink

Rejeição e empatia

Outra maneira de ajudar o filho ou o aluno que está sofrendo por causa de uma rejeição é oferecer empatia. Palavra tão comentada atualmente e que tem um significado profundo e transformador. Hoje em dia são muitas as fontes de informações destinadas aos pais sobre validar o sentimentos dos filhos e ajudar a nomeá-los, porém durante os aconselhamentos que faço, os pais relatam não saber o que fazer ou que não têm conseguido alcançar um lugar de tranquilidade com o filho.

Oferecer empatia vai além de se colocar no lugar da criança, de tentar compreender o que ela está sentido e dar um nome a esse sentimento: empatia também requer aceitação. A aceitação completa e genuína de que neste momento as coisas não vão bem na vida da criança e consequentemente, na nossa.

Os sentimentos (e o motivo que os causa) são o que são e aceitá-los significa que iremos lidar com eles ao invés de tentar fazê-los desaparecer. Os sentimentos têm começo, meio e fim; não há raiva, tristeza e nem alegria que dure pra sempre, com isso em mente fica mais fácil resistir à tentação de tentar livrar a criança (e nós mesmos) de passar por um momento ruim, no caso a dor e o desconforto da rejeição.

As crianças são extremamente inteligentes e seres humanos com alta sensibilidade, sabem quando estamos aflitos, com pressa de resolver as questões e este é o ponto que quero chegar sobre a empatia. Ela precisa ser praticada com autenticidade. Não adianta só falar “Poxa, você está triste” na esperança e na intenção que o choro passe, que a dor vá embora logo. Elas sentem isso e muitas vezes o tiro pode sair pela culatra, podem ficar ainda mais chateadas e frustradas.

Isso porque não se pode usar a empatia como uma técnica. Ela só funciona genuinamente! Pois na verdade o que está em jogo não são as palavras dos pais ou professores, mas, sim, a CONEXÃO emocional. Outro ponto importante é sobre COMO ajudar a nomear os sentimentos, pois nesta hora acontecem muitas projeções dos pais em cima dos filhos.

É essencial que a gente diga “você PARECE triste” e deixe um silêncio, um tempo de resposta para o que o filho confirme se é tristeza que ele estava sentindo ou se na verdade era raiva, por exemplo. Dê o seu melhor palpite e deixe a criança confirmar ou te corrigir. Muita hora nessa calma. Perdoem o trocadilho!

Oferecer empatia ensina às crianças que elas têm condições internas e externas para lidar com os altos e baixos da vida. Esse sentimento de empoderamento é que vai ajudar a criança durante a rejeição e como eu disse anteriormente, isso é feito no dia a dia e não na hora que riram do seu filho e ele não participou da brincadeira no pátio.

Continuando, uma vez que a gente acertou o que o pequeno está sentindo, podemos descrever a mágoa: “você estava contando que iam te chamar para brincar. Você queria que os amigos fossem mais gentis e legais.” Valide/reconheça os sentimentos e a situação, seja sincero e genuíno, não tente disfarçar a rejeição: “É difícil ser deixado de fora. É duro passar por isso/ É horrível quando riem da gente.”

E aqui vem a chave de ouro: “Você pode lidar com isso.”.

Neste momento, se conecte com a criança, eu usava muito a respiração com meus alunos. Respirar profundamente acalma a ansiedade e o stress, diminui a pressão arterial, relaxa os músculos, etc. Conte com a respiração nessas horas e durante o dia a dia também para que no momento de dificuldade a criança já esteja habituada a respirar profundo e esse é um presente que ela levará consigo para o resto da vida!

E poderá usar quando nós não estivermos lá para ajudar, por isso lembrem de praticar. Se a criança aceitar, ofereça um abraço. Se durante tudo isto seu filho chorar ainda mais, saiba que vocês estão no caminho certo. Chorar lava a alma, cura feridas, alivia angústias e a empatia e nosso apoio ajudam a criança a se apropriar dos problemas da vida dela e lidar com a realidade. Isto as coloca numa posição mais saudável e com mais poder para seguir em frente solucionando os problemas que aparecem.

Foto: Artem Podrez no Pexels

Rejeição e autorreflexão

Quero falar da importância de ajudar a criança a fazer uma autorreflexão! Ajudá-la a pensar sobre o que ela mesma pode estar fazendo que, de alguma forma, contribui para afastar os colegas e também o que ela pode fazer para mudar isso.

Vou dar um exemplo que aconteceu em sala de aula anos atrás com uma garotinha de 3 anos e meio. Ela era simpática, autêntica e inteligente, mas não se interessava por alguns aspectos de aparência e higiene que já incomodavam os colegas dessa idade. Vivia com o dedo no nariz ou com as mãos molhadas de terem sido postas na boca e o cabelo desgrenhado.

O que aconteceu é que após repetidas vezes sendo rejeitada para dar a mão nos deslocamentos pela escola, nas brincadeiras do pátio e trabalhinhos de mesa, ela finalmente veio falar comigo: “Dani, ninguém quer dar a mão pra mim!” e lá ia o dedo pra dentro do nariz!

Me lembro da nossa conversa: “Eu sei o porquê! Seus amigos gostam de você, o problema é que ninguém gosta de caca de nariz! Nem de mão molhada de baba. Eu mesma quero dar a mão pra você para irmos para a biblioteca, mas não quero encostar no dedo que foi no nariz. Seus amigos são crianças pequenas também, mas já percebem essas coisas. Eles gostam de mãos limpinhas.”.

Ela abriu um sorriso enorme, acho que ficou aliviada. Trabalhem isso no dia a dia com as crianças, a aparência geral bem cuidada é respeito com o próprio corpo e também com os outros. Ali começou um processo para essa garotinha em busca de suas amizades e no entendimento de algumas regras sociais.

Outros exemplos sobre ajudar a criança a olhar para ela mesma como participante do que acontece à sua volta são quando o filho/aluno fala certas coisas que magoam os colegas, quando cometem o “sincerocídio”. As crianças não aceitam de bom grado certas ofensas em grupo, é importante ensinar que devemos ser verdadeiros mas acima de tudo devemos ser humanos!

Junto com a famosa lição de não falar mentiras, nós educadores temos o dever de ensinar que não se deve falar tudo que se pensa em certas ocasiões ou corre-se o risco de perder alguns colegas e atrair a antipatia. Não é porque as crianças são pequenas que elas deixam de se encaixar nas regras de bom senso e convívio social. E o modo como se fala representa um espaço enorme em como os outros recebem nossas palavras. Vale a pena trabalhar isso com os pequenos.

Atitudes que também chateiam crianças e com isso elas podem excluir um colega são: exibir-se demais, contar vantagem o tempo todo, reclamar de tudo, humor fora de hora e, principalmente, não entender e não respeitar o sinal de que o colega não está gostando. Ter a percepção que o outro não gostou é essencial na vida.

Como vocês podem ver são sutilezas de alto impacto e que desenvolvem responsabilidade pessoal e empatia. Lembrem-se de acolher estas crianças usando compaixão e fornecendo a elas as habilidades que depois poderão usar sozinhas.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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