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Coluna Pais em Ação: creche, escola ou babá?

Uma das decisões que as famílias precisam tomar logo nos primeiros anos da criança é quem será responsável pelo cuidado dela enquanto os os pais trabalham. Há quem opte por deixar o filho com parentes, outros com babá e também há quem escolha a creche ou escolinha. Essa decisão não é simples e causa muitas dúvidas e desconfortos nos pais. Por isso, a Daniela Nogueira traz sua reflexão sobre o tema. Confira:

criança brincando com caminhão

Foto: Yan Krukov

Lembre-se: seu bebê não precisa de currículo

Em qualquer lugar do mundo pais e mães têm de trabalhar, precisam de tempo para si e necessitam de um local de acolhimento para seus bebês. Não podemos fugir da realidade: creches, pré-escolas e locais que acolhem os 3 primeiros anos são extremamente necessários na nossa sociedade. No entanto, não podemos esquecer que o cuidado das crianças é e sempre foi um business e, por isso, devemos nos atentar a alguns pontos.

Do que o bebê realmente precisa?

É preciso sensibilidade e conhecimento sobre o que um bebê realmente precisa para que, como sociedade, possamos começar a oferecer espaços mais respeitosos para os pequenos. A neurociência hoje comprova o que a pediatra Emmi Pikler já falava desde o período pós 2ª guerra: os três primeiros anos de vida são fundamentais na formação do indivíduo, seu cérebro, psiquismo e construção corporal.

De fato, o melhor lugar para um bebê estar durante o período de 0 a 3 é ao lado de sua família, mas isso nem sempre é possível. E se é preciso mandá-lo para a creche para conviver dentro de um grupo, o único “currículo” que ele vai precisar são os cuidados de sua professora. Ou seja: o currículo é o cuidado dela com o seu filho. Ao bebê deve ser oferecido a continuidade da segurança de sua casa através da relação construída aos poucos com sua educadora.

Estes cuidados – que muitos consideram um trabalho “subalterno”, como: a troca de fralda, banho, refeições, etc – literalmente ajudam a construir o cérebro do seu filho. Isso porque eles abrem e reforçam caminhos neurais. O olho no olho e as conversas durante os cuidados criam intimidade, por isso a importância de manter a mesma cuidadora do começo ao fim e o mesmo padrão de cuidado. Isso é ciência e não opinião.

Quando a educadora ocupou-se de tudo isso com o bebê, ela pode deixá-lo tranquilo (já que o ambiente foi pensado para ser seguro) para explorar o que ele quiser, principalmente o próprio corpo através da motricidade livre.

E do que o bebê não precisa?

Mas e o inglês? E o violão tocando alto junto das vozes dos adultos sentados em roda? E as “atividades”? Elas não são necessárias agora. Pense comigo: o bebê ainda não se conhece como um “EU” à parte de sua mãe, ele ainda não tem uma representação completa de si. Já repararam como bebês ficam juntos, mas não “brincam juntos”? É difícil viver o “nós” quando ele ainda não integrou o “eu” e isso é um processo longo que pode ultrapassar os 3 aninhos de vida.

Que vantagem há então em fazer um grupão de bebês cantar juntos? Ou “ensiná-los” a identificar objetos e símbolos como letras e números? A maturação precede a aprendizagem. Ignorar isso é colocar o carro na frente do boi. Não se enganem com repetições, o cérebro humano é uma máquina e algumas crianças darão conta dos currículos escolares, mas em hipótese alguma isto significa que o emocional dela caminha lado a lado com o conhecimento, muitas vezes vazio, desses conteúdos.

As crianças que estão em seu ritmo normal e parecem não dar conta do tal conteúdo correm o risco de serem rotuladas e terem sua autoestima prejudicada numa fase tão importante de autonomia versus vergonha e dúvida. Já notaram como aumentou a demanda por terapia, por psicomotricidade, entre outras especialidades quando a criança está mais velha? Lá vai ela para o consultório fazer atividades que deveria ter feito quando era pequena, mas estava ocupada com as tarefinhas precoces.

O começo da mudança está nas mãos dos pais ao entenderem que bebê e criança pequena precisam de liberdade para brincar, cuidados excelentes e ZERO currículo. Se insistem em oferecer cada vez mais maluquices para crianças cada vez menores é porque existe mercado pra isso: os próprios pais que de bom coração acreditam que estão oferecendo o melhor para os bebês. Porém, segundo a neurociência e os índices cada vez mais altos de ansiedade infantil vemos que isso não é verdade. Como disse Albert Einstein: insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.

Então, o que é melhor: deixar em casa com a babá ou por cedo na escolinha?

Logo de cara já quero dizer que eu não tenho as respostas! Cada família tem uma necessidade, uma prioridade e, por quê não, uma angústia. Meu trabalho é ajudar nas reflexões e nas informações, seria muita pretensão dizer o que cada pai deve fazer. Vou citar exemplos do que tenho ouvido ao longo dos anos:

  • “Prefiro deixar na escola do que casa com babá sem fazer nada”;
  • “Sabe como é, pelo menos na escola está aprendendo alguma coisa e interagindo com outros”;
  • “Mas o bebê não vai enjoar de brincar com as mesmas coisas em casa e ir na mesma pracinha/play todos dias?”;
  • “Socializar é muito importante não dá para fazer isso fora da creche pois ele não tem primos”;
  • “Não sei mais o que inventar para entreter meu bebê, pelo menos na escola tem novidades o tempo todo”;
  • “Melhor na creche do que com babá vendo TV”, dentre outras.

Quero responder cada uma dessas preocupações, mas para isso é preciso conhecer e entender uma pessoa: O BEBÊ! O bebê não é uma versão minúscula de um adulto, portanto a lógica e a agenda adulta não se encaixam em nada aqui. Um nenê e um toddler estão descobrindo (do verbo: isso é um processo que levará anos) o mundo e não há NADA de entediante nisso!

Seu filho está descobrindo o mundo: aos poucos!

Como disse Alison Gopnik, em um TEDtalk, ser um bebê é como estar apaixonado, em Paris pela primeira vez, logo após ter tomado três expressos duplos! Pensem nisso e jamais se preocuparão se a criança pequena está entediada! Cada despertar de manhã é uma nova chance de continuar a entender a vida, a casa, os objetos, as pessoas, etc. Cada dia ela elabora e adiciona um punhado de informações e conhecimento que vai adquirindo.

Alison completa dizendo que é por isso que, às vezes, fica-se acordado e chorando às 3 da manhã – é muita informação, muita novidade! Então se acalmem, até os 3 anos o mundo pode ser apresentado em pequenas doses.

Daí, podemos ampliar nossa reflexão falando sobre a importância da rotina. Se um nenê já é fascinado com tudo o que aparece, imaginem se a cada dia aparecem mais e mais coisas? Mais novidades, mais brinquedos, mais cores primárias, mais massinha, mais giz de cera, mais músicas… Que cansativo! Não vou nem mencionar neste texto o mal que faz a TV e todos os outros tipos de tela nessa fase. Como o seu bebê vai processar tanta informação se seu cérebro ainda não está nem perto de estar todo formado e este órgão já tem o seu trabalho natural a fazer?

É através da rotina e do ambiente tranquilo e emocionalmente acolhedor que um bebê vai dar seus primeiros passos rumo à criatividade. Só vivendo a “mesmice” ele verdadeiramente dará conta da novidade. O novo só vem a partir do que já é conhecido e para um bebê isso leva TEMPO. São os adultos que se enjoam de fazer sempre a mesma coisa!

Quem ai nunca ouviu o filho repetir mil vezes a mesma história? E quanto aos brinquedos, eles não estão aqui para estimular (mais ainda? lembrem dos 3 expressos duplos hein!) seu filho, mas sim para matar a curiosidade dele. O nenê já nasce curioso e minha sugestão é: observe o interesse do seu bebê, pois não será o mesmo de um adulto.

Mas ele não aprende mais na escolinha?

Sobre a estar “aprendendo” ou “fazendo” algo, coisa que tanto escuto…nós vivemos em tempos que estar ocupado é sinal de status e estamos enfiando isso goela abaixo dos nenês e toddlers. Um bebê olhando fixamente para sua própria mão está “fazendo” um trabalho enorme! Um toddler enchendo e esvaziando uma bacia de legos está trabalhando! A motricidade livre é que permite ao bebê um desenvolvimento intelectual normal.

Agnes Szanto explicitou isso muito bem no simpósio internacional sobre a 1ª infância em SP. Um pequeno que fala ‘oi’ para o porteiro, para a cozinheira, para os conhecidos da roda íntima de seus pais já está socializando, outra grande preocupação dos pais. Quem já observou um grupo de vários bebês juntos sabe que eles podem até se ver e se tocar ou rir um para o outro, mas socializar como os pais imaginam ainda não acontece.

Primeiro, seu filho precisa descobrir a si mesmo para depois descobrir os outros – o bebê nasce na maior simbiose com a mãe e é com tempo e vivência que ele descobre que os dois não são um só. Imagina então lidar com mais 10 outros indivíduos? Há tempo para tudo!

O que realmente importa na hora de tomar essa decisão?

Seja em casa ou na creche o que importa é:

  • Quem vai cuidar do seu bebê;
  • Se ele terá tempo livre;
  • Se ele poderá ter sua motricidade livre (alô inteligência);
  • Se o ambiente é tranquilo e não cheio de tranqueiras, excesso de brinquedos ou cores.

Quem prefere tudo colorido são os adultos – ou só alguns deles, pois não acredito que iriam gostar de trabalhar num escritório lotado de cores primárias. Não é para ser sem cor, mas não precisar estar em todos os lugares, móveis e objetos – afinal, cor é estímulo visual. O ruim são os extremos. O que importa é se o bebê será respeitado como indivíduo, com suas singularidades e gostos, se as refeições serão dadas de forma calma (sem forçar e sem dizer “parabéns comeu tudo” ou “só mais uma colher vai”), se a troca de roupa e fralda será respeitosa.

Se ele não vai ser obrigado a “fazer” coisas, como: pinturas, sentar na roda, etc. De novo, queridos pais, não caiam nos extremos: não há nada errado com estas atividades, mas tudo tem seu tempo. Há coisas mais importantes para um bebê “fazer” e o segredo está no interesse dele, na brincadeira livre, no currículo ZERO e nos cuidados primordiais, sejam eles na creche, na escolinha ou em casa. Procurem por este lugar, demandem este nível de child care, com cuidadores treinados para olhar o bebê como ele é e então, deixem que ele faça seu próprio trabalho!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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