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Pais em Ação | Meu filho não sabe compartilhar, e agora?

O conflito entre crianças é inevitável, principalmente quando envolve a disputa de brinquedos e outros itens. Nesses momentos, muitos pais não sabem como reagir quando o filho não sabe compartilhar ou não aceita que o outro não vai compartilhar. Para ajudar a entender esses conflitos e o papel dos pais nesse processo, Daniela Nogueira trouxe sua visão sobre essas situações. Confira:

Foto: Cotonbro

Compartilhar não é fácil, para adultos e crianças

O tópico de hoje é sobre dividir, mas poderia ser sobre exigir da criança maturidade que ela ainda não atingiu ou mesmo, pedir à criança uma coisa que nem você faz com todo mundo, que dirá com estranhos na pracinha. No dicionário, emprestar significa confiar ou ceder temporariamente algo a alguém, esperando respectiva restituição. Porém, para a criança pequena emprestar quer dizer dar. E dar não apenas o brinquedo, mas também sua vontade de brincar com ele.

Ao educar temos que lembrar que o foco do nosso trabalho não é ser juiz de brinquedos e brincadeiras, mas ajudar a desenvolver pessoas autênticas, autônomas e confiantes. Para que o emprestar aconteça de forma autêntica a criança precisa ter desenvolvido empatia, que é a habilidade de se identificar emocionalmente com outra pessoa. Seu filho precisa assimilar a vontade da outra criança de brincar com o que é dele. Viver esta experiência ele mesmo e reconhecer-se nesta mesma posição, a ponto de querer ceder o brinquedo, é um aprendizado interno. É difícil até para adultos serem empáticos, imaginem os pequenos!

Empatia se desenvolve no relacionamento entre pessoas, a começar com os cuidadores: pais, babás, professores, até estender-se aos colegas e estranhos da pracinha. Por isso a importância de deixar que estes conflitos aconteçam e se desenrolem na presença de um adulto “mediador” atento e paciente.

Para aprender a dividir o que é seu, primeiro a criança precisa ter vivido momentos de possuir um objeto, de ser o dono dele e de ter permanecido com ele em seu poder até que estivesse pronto para liberá-lo. É um processo um tanto complexo, que não acontece com três idas ao parque e um adulto interferindo a cada brinquedo que foi disputado.

A maioria das crianças não está pronta para dividir seus pertences antes dos 3 anos e ainda assim pode ser bem difícil depois dessa idade. Confie que que filho irá aprender e que a cada interação no tanque de areia ou na sua casa serve como suporte dessa aprendizagem. Como degraus que precisam ser escalados rumo ao alvo que está mais acima; não tire do seu filho essa escalada com medo de que ele vire um ‘egoísta’. Isto não é egoísmo, é desenvolvimento!

Foto: Cottonbro

Então, qual o papel dos pais?

Em primeiro lugar observe e espere! Muitas vezes as crianças resolverão o conflito sozinhas. Vão disputar até que um permaneça com o objeto ou até que o outro desista, por exemplo. Essa disputa é normal e sem ela não haverá aprendizado.

Pode ser que uma das partes se interesse por outra coisa ou pode acontecer da situação escalonar e você precisará chegar perto. Evite comentários que julguem. Evite mais ainda arrancar o brinquedo da mão de um e colocar na do outro! Afinal, estamos querendo que eles aprendam a não fazer o mesmo.

Para isto você pode se utilizar da técnica de narrar a situação: “Vocês 2 querem o mesmo balde vermelho”; “Pedro está puxando e você não quer soltar.”; “Os 2 estão chateados.”; “vou ficar aqui perto caso precisem de mim”. E se a situação ficar bem tensa a ponto de um bater ou empurrar, coloque sua mão (com firmeza, mas de forma pacífica) bem no meio das crianças para que sua mão impeça uma mordida ou empurrão. Narre esta parte também: “Vou colocar minha mão aqui no meio. Não vou deixar você bater no Pedro.”

Narrar de forma objetiva e sem julgamentos oferece maior esclarecimento da situação, ensina linguagem e inteligência emocional sem que a gente tome partido entre as crianças. Alguns casos merecem atenção e cuidados especiais. Como em casos recorrentes de um querer sempre o brinquedo do outro: “João está com o balde agora. Vou por minha mão aqui e não vou deixar você puxar. Quando ele terminar de usar o balde você poderá pegar. Eu te ajudo a esperar.”.

Ou quando uma criança está no meio de um projeto e seu trabalho ou brincadeira precisa ser protegido. “Vou colocar minha mão aqui perto. Não vou deixar você derrubar a torre que o Lucas está montando”. Reparem nas frases curtas e objetivas! Apenas narre e impeça com sua mão.

Uma dica de ouro é sempre começar com o mínimo de ajuda necessária, às vezes, só a sua presença já transmite confiança para que as crianças se sintam seguras para se resolverem a disputa sozinhas. Não é de primeira que a gente acerta este tipo de intervenção, então, mantenha o bom ânimo e mesmo que você erre e interrompa antes da hora, ou use sua mão com rispidez para impedir alguém de morder ou empurrar, tente de novo!

Cada interação destas você se torna mais sábia e as crianças também. Se interrompemos o tempo todo para resolver o conflito, tiramos essa oportunidade das crianças. Muitos adultos ficam extremamente ansiosos diante uma disputa de brinquedo, mas é importante dar espaço, ajuda e respeito. Quando se trata de dividir e emprestar, estamos numa corrida longa como uma maratona e não nos 50 metros rasos. Acredite que cada passo é importante na construção da empatia e da socialização.

Foto: Cottonbro

E quando meu filho só quer o brinquedo do outro?

Já pararam para pensar no motivo de um brinquedo na mão de um bebê ser mais interessante do que o que está na estante? É porque o brinquedo se mexe! Está “vivo” na mão do outro e, portanto, mais atrativo! Por essa razão algumas crianças parecem fascinadas pelo que está na mão do outro, não porque são implicantes…

O que fazer nesses casos então? O mesmo das situações anteriores: aguarde e observe! Se as crianças estiverem disputando sem se machucar, deixe que vivam esta experiência de conflito, é com a prática que irão aprender como lidar com outro ser humano. Fique junto, pois não se intrometer em tudo na vida dos pequenos não significa deixá-los sozinhos na situação. Sua presença é essencial. Narre objetivamente o que você vê (como citei anteriormente), isso os tranquiliza de que você entende o que elas estão passando.

E se o conflito continuar?

Se depois destes dois primeiros passos (aguardar/observar e narrar) ainda estiverem disputando e a situação ficar mais difícil, você pode olhar em volta e perguntar se um outro objeto interessa a um dos envolvidos. Pode, inclusive, brincar com o objeto – já que isso o torna mais atrativo.

Eu encorajo vocês a só partirem para esse passo depois de permitirem aos filhos a vivência do conflito, pois não se pode fugir dele durante a vida e aprender ao lado de um adulto paciente e atento é muito melhor. Segundo a abordagem de respeito e autonomia que sigo, o adulto deve sempre começar com o mínimo de ajuda possível, justamente para dar espaço à criança. Se toda vez a gente for lá e resolver a “briga” por eles, ou aprenderão a depender de nós/de outro para resolução de problemas ou uma das partes se sentirá injustiçada.

Nossa meta é dar oportunidades para eles aprenderem sem que se machuquem, lembrem do recurso de colocar a mão (suave) na frente de alguma agressão! Caso uma resolução não seja possível e a situação está insustentável, você pode decidir facilitar a paz gentilmente guardando o brinquedo, lembrando que elas terão a chance de brincar com o objeto mais tarde. E lembre-se: é impossível manter o filho feliz o tempo todo e não é esse nosso papel.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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