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Pais em Ação | Por quê o choro causa tanto medo nos pais?

Na coluna Pais em Ação, da Daniela Nogueira, a famosa birra já foi tema. No entanto, o choro, parte da birra, está presente em outros momentos e parece difícil de administrar. Por quê o choro causa tanto medo nos pais? Entenda aqui:

Foto: Anna Shvets no Pexels

Por que o choro causa tanto medo nos pais?

“É doloroso ouvir um bebê chorando. Adultos tendem a reagir de forma exagerada ao choro de uma criança. Por quê? Porque chorar muitas vezes desperta memórias dolorosas de nossa própria infância, levantando questões de abandono e medo. Talvez, como bebês ou crianças pequenas, nós não tínhamos permissão para chorar e fomos distraídos ou repreendidos quando o fizemos. As lágrimas de nossos filhos muitas vezes desencadeiam [de forma inconsciente] em nós essas memórias enterradas de raiva, desamparo ou terror, levando-nos de volta aos primeiros anos. A mensagem do nosso bebê [que seria passada justamente através do choro] pode então se confundir com nossos próprios problemas. Tente ouvir seu bebê para ouvir o que ele está dizendo.” – Magda Gerber.

Recentemente tenho falado muito sobre choro nos aconselhamentos. Seja o choro da adaptação escolar, do acordar no meio da noite ou o de puro protesto mesmo. Essa frase da Magda nos entrega um mapa do tesouro: é com o choro e através dele que muitas vezes chegamos na solução.

Para os pais, é através do entendimento de que as lágrimas dos filhos causam gatilho na própria alma e que escutar o filho pode ajudar a curar as feridas da infância já passada. Para os bebês e crianças pequenas, muitas vezes será através do choro que a calma voltará, que o assunto difícil surgirá e que conversas serão possibilitadas.

Eu percebo uma movimentação em torno de fazer o choro parar o quanto antes pois ele mexe com a vulnerabilidade que nós tivemos e ainda temos cravada no peito. Deixem as lágrimas virem, queridos pais. Pois no fundo, elas mais curam do que machucam.

Foto: Pixabay

O choro como parte do processo de mudança

Uma criança tem de se encontrar com suas lágrimas. Na verdade, todos nós temos. E a falta desse encontro, que é causada tanto pelas nossas defesas quanto pela fobia de lágrimas da nossa cultura, cria um círculo vicioso maligno. Quanto mais você se defende de sentir tristeza, decepção e os outros sentimentos importantes para sua saúde mental e vida digna, mais você cria barreiras de defesa que, na verdade, endurecem o seu coração.

Ao ter o coração duro você vive a ilusão de estar seguro contra a vulnerabilidade; afinal, amar, se importar e cuidar deixam qualquer um na posição de poder ser ferido pelo outro. O que não percebemos – e precisa ser posto em palavras, é o ciclo vicioso: quanto menos vulnerável eu me torno, menos sentimentos difíceis eu experimento e menos eu me abro para um processo vital na vida: adaptar-se.

Os humanos são as criaturas mais adaptáveis que existem, mas nós não nos adaptamos a não ser que exista uma situação que nos force a isto. Um confronto com aquilo que não tem jeito. Por exemplo: “você vai ganhar um irmãozinho/vovó está doente/vamos mudar de país”. Na psicologia do desenvolvimento, a adaptação é chamada de ‘mudança profunda’ – é o processo pelo qual nós somos transformados, no qual precisamos nos adequar a algo que nós não podemos transformar.

Diante do que eu não posso mudar, mudo eu! Aceitamos a realidade e não só isto, nos tornamos resilientes e aprendemos que podemos viver e lidar com isso. Não adianta apenas saber destas coisas, é preciso ter sentido no coração a impossibilidade de mudá-las.

Isso requer adaptação, não é uma adequação superficial, mas um processo significativo e muito importante para a continuidade da vida com saúde. E o processo não acontece nas ideias, mas nas emoções: e quem dirige a área desta adaptação no cérebro é o sistema límbico. Quando a criança se dá conta da realidade que não irá mudar, esse sistema manda um sinal neurológico para as glândulas lacrimais e os olhos marejam e o choro chega. Ele tem que chegar, é natural.

Se você se defende (ou o filho) para nunca sentir vulnerabilidade, tristeza e frustração por aquilo que não tinha jeito, você impede o processo. Deixe seu filho ter os encontros dele com as lágrimas!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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