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Pais em Ação | Como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa?

Na primeira coluna do ano, Daniela Nogueira, do Pais em Ação, reflete sobre um desafio das famílias: como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa? O desafio de estar presente, criar laços e participar ativamente da vida dos filhos parece ainda maior quando precisamos passar cada vez mais horas trabalhando. Como organizar isso? Quais os efeitos dessa dinâmica para as famílias? Confira:

Foto: Vlada Karpovich no Pexels

Os filhos precisam da presença dos pais

Vivemos numa cultura que afasta os pais dos filhos e dificulta para a sociedade o cuidado dos nossos pequenos (e grandes) como eles merecem. O trabalho tem engolido os pais, as escolas só faltam oferecer dormitórios, o mundo virtual encanta e entorpece e, para adicionar pressão, existe uma ideia atualmente de que criança tem mais é de estar com outras crianças o máximo de tempo possível. Não tem não. Não o máximo de tempo. Crianças e adolescentes ainda precisam muito da influência e companhia de seus pais.

“O real problema da humanidade é o seguinte: temos emoções paleolíticas, instituições medievais e uma tecnologia divina”, disse Edward O. Wilson. Isto que dizer que para o cérebro humano e suas relações, não importam a mensalidade escolar, o device tecnológico e quão distraídas as pessoas estão. O bebê humano ainda é o mais imaturo das criaturas e precisa de adultos em volta, principalmente seus pais.

Não somos mais uma sociedade de caçadores e coletores, mas nosso cérebro ainda funciona assim. Se você não cuidar do seu bebê humano, ele, que foi gerado para fazer apego, irá se apegar em outro lugar – este lugar tem sido, para muitos, o grupo de amigos e a internet. Só pode dar erro! A relação de dependência que uma criança vive precisa de um adulto numa posição Alpha sobre ela, que banque o que significa amar e cuidar.

Uma outra criança ou adolescente não terão o que é preciso para bancar isto para o seu filho e é aqui onde tudo desanda. Ao mesmo tempo somos atolados por informações dizendo que nada é mais importante para o desenvolvimento do seu filho quanto uma boa escola (de preferência bilíngue), cada vez mais cedo e claro, o grupo de amigos. Só que os que pregam isso não levam em conta a evolução humana, sua psiquê e a teoria do apego.

Pais desatentos estão perdendo seus filhos dentro de casa e dentro das escolas. Estamos criando uma geração de abandonados domésticos. Encorajo vocês a lerem o livro “Agora não Bernardo” de David McKee, pois apesar de ser um livro infantil, ele nunca foi tão propício aos pais.

A importância do apego na família

Em nossa cultura há uma intensa preocupação dos pais com os filhos no que diz respeito à eles “pertencerem” ao grupo de amigos. Porém, ao estudarmos a relação de attachment e suas funções na vida de um indivíduo, vemos que a criança e mesmo o adolescente, precisa, antes de mais nada, pertencer aos pais. Entendam o sentido do pertencimento não como os pais sendo os donos da criança, mas como nós sendo os grandes provedores de significado, de mostrar-lhes o quanto são importantes, de sentir conosco uma sensação de unidade.

Isto tem de vir de nós, pois se vier do grupo – que será tão imaturo quanto seu filho, ele estará sujeito à cancelamentos e rompimentos a cada erro cometido, e isto é uma receita pronta para criar pessoas inseguras. Então, antes de pensar sobre o grupo, pense sobre o relacionamento do seu filho com você. Temos de cuidar do apego que nossos filhos têm conosco.

Isso mesmo, que ELES sentem, que eles têm conosco – nosso trabalho é que eles sintam que nós somos o porto seguro, nós não cancelamos, nós não rejeitamos. Até que eles estejam formados, somos nós a fonte mais importante de conexão deles.

Quem cuida é o alpha, que provê, e a criança é a que depende e busca por nós. Entendem a importância de um bebê até um adolescente continuar se sentindo cuidado? Ele não precisará buscar apego em outro lugar – que muitas vezes não terá cuidados para dar. O apego e intimidade emocional cria um escudo onde é seguro para a criança liberar e sentir seus mais profundos sentimentos. Nossa cultura já não cuida mais desta questão, a vila se espalhou e se despedaçou, então precisamos nós mesmos nos atentarmos para este assunto.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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