Doçura na medida certa: açúcar ou adoçante?
Desde que o açúcar (sacarose, proveniente da cana-de-açúcar ou beterraba) assumiu o papel de vilão na alimentação, uma das maiores dúvidas de pais e mães é a de como adoçar os alimentos na dieta das crianças – principalmente se elas estiverem acima do peso. Açúcar ou adoçante: eis a questão.
A resposta correta seria nenhum dos dois. O ideal seria habituar as crianças a ingerir apenas o açúcar natural dos alimentos, como a frutose encontrada nas frutas. Estimular as mesmas a conhecer o sabor dos alimentos e de líquidos sem adição de açúcar ou adoçantes como frutas, leites, sucos e chás, seria a atitude mais correta.
Porém, sabemos bem que o ideal está bem distante do real… e, na prática, é inevitável que as crianças consumam alimentos adocicados. Como o excesso de peso adquirido na infância é um fator preponderante para a obesidade na vida adulta, a questão que vem à tona é como combater os excessos. Para tanto, o melhor é entendermos melhor as duas opções, o açúcar e o adoçante.
Açúcar: quando usar e qual usar?
Recomendo o uso moderado de açúcar para as crianças que estão no peso ideal ou com baixo peso para sua idade.
A matéria-prima do nosso açúcar, você sabe, é a cana-de-açúcar. Para facilitar a escolha do melhor açúcar, a regra básica é: quanto mais escuro for o açúcar, mais vitaminas e sais minerais ele terá, e mais perto do estado bruto ele estará. A cor branca significa que o açúcar recebeu aditivos químicos no último processo da fabricação, o refinamento.
Sendo assim, o açúcar mais recomendado para crianças é o mascavo – desde que o consumo não ultrapasse 10% da dose de carboidratos ingerida diariamente.
De modo geral, pode-se dizer que 1g de açúcar fornece ao organismo 4 calorias. Dessa maneira, 1 colher (sopa) de açúcar (12 g) fornece 48 calorias.
Em média, a dieta de uma criança em idade escolar é de 1600 kcal. Os 10% equivalem a 160 kcal, que é igual a 40g de açúcar.
Mas o importante é salientar que nesses 40g de açúcar não só consideramos o açúcar de adição, mas o que está presente em bolachas, sucos industrializados, refrescos em pó, refrigerantes, balas, chocolates etc.
Adoçante: quando usar e qual usar?
Recomendo o uso de adoçantes para crianças com excesso de peso ou diabéticas. Mas, assim como não se prega o consumo indiscriminado de açúcar, o mesmo vale para os adoçantes.
Os adoçantes dietéticos são compostos por edulcorantes, substâncias naturais ou artificiais diferentes do açúcar de cem a seiscentas vezes mais doces do que ele.
Os melhores adoçantes para o consumo são aqueles à base de sucralose (artificial) e estévia (natural).
Sucralose
Recentemente aprovada para o uso como adoçante nos Estados Unidos, a sucralose é o único adoçante artificial feito a partir da sacarose. Adoça 600 vezes mais que o açúcar. A sucralose não é reconhecida pelo corpo como um açúcar e por essa razão atravessa-o inalterada. A IDA (Ingestão Diária Recomendada) é de 5 mg por quilograma de peso corporal para todas as idades, inclusive para as crianças e mulheres gestantes. A vantagem desse edulcorante é que é termoestável e, portanto, pode ser utilizado em preparações culinárias tais como bolo, biscoitos e tortas doces.
Estévia
A estévia é uma planta nativa da América do Sul que, há séculos, vem sendo utilizada como adoçante. A segurança da estévia para consumo humano foi estabelecida através de pesquisas rigorosas revisadas. Igualmente, termoestável a estévia tem a capacidade de adoçar 400 vezes mais do que o açúcar. A dose máxima recomendada por dia 5,5 mg/KG/D.
Importante dizer que a sucralose e a estévia não aumentam os índices glicêmicos, ou seja, a quantidade de açúcar no sangue. A sucralose tem sabor bastante parecido com o açúcar tradicional, o que é bom, porque contribui para evitar a rejeição infantil. A estévia, por sua vez, tem sabor residual amargo, que pode não agradar o paladar da criança.
Heloísa Tavares é nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo, especialista em pediatria clínica pelo Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP, graduada em pedagogia na Faculdade de Educação da USP e atua há mais de 10 anos em consultório junto à Clínica Len de Pediatria. |