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Pais em Ação | Adaptação escolar: como lidar com o afastamento e inseguranças

Nós já conversamos aqui sobre a volta às aulas e demos várias dicas. No entanto, a adaptação escolar – assunto tão sensível para muitas famílias – precisava ser aprofundado. Por isso, nossa colunista Daniela Nogueira, do Pais em Ação, traz uma reflexão importante sobre o tema. Confira:

adaptação escolar

Foto: Rodnae Productions on Pexels

Adaptação escolar com calma e respeito

Mãe e bebê irão enfrentar um grande passo, a separação! Como professora em São Paulo e no Rio de Janeiro, eu participei deste processo tão importante na vida familiar. Na época, eu não tinha filhos ainda e por mais que eu já tivesse um olhar de respeito para o bebê e sentisse empatia pela angústia das mães, hoje consigo ver que eu não sabia realmente o que elas estavam passando.

Eu as confortava, acolhia, mas não tinha a vivência para compreender o incompreensível: quão avassalador pode ser separar-se da sua cria mesmo que, racionalmente, você sabe que tudo vai ficar bem. Hoje quero escrever sobre o tema com uma visão mais madura e também mais profissional. Não apenas me tornei mãe, mas também me aprofundei no estudo da primeira infância e numa abordagem que busca pensar em como acolher melhor uma criança pequena num ambiente que não é a casa dela.

Vou começar com uma frase que ouvi da Agnès Szanto: “A criança vive na família uma história e na escola, um capítulo”. Quando um bebezinho chega na escola, que escola chega para este bebê? É um local emocionalmente acolhedor, fisicamente seguro e cognitivamente apropriado? Tem uma professora curiosa e pronta para entrar numa relação? Não dá para fugir disso: adaptar é fazer vínculos! O bebê encontrará perguntas ou ordens? Mãos e rostos carinhosos ou pressa de fazer e acontecer?

A criança é da família. É ali que ela se sente pertencendo, então quando se propõe uma parceria escola-pais, é importante que os pais entendam que a escola não tem todas as respostas e que precisa de ajuda para conhecer quem é o filho deles. É igualmente importante escutar os pais, pois para acolher o bebê é necessário acolher os pais e dar oportunidades para que falem do filho e assim construam juntos um olhar compartilhado sobre o bebê e seu desenvolvimento particular. Isso leva tempo.

Mas quanto tempo?” Já me perguntaram várias pessoas. Para entender que não existe resposta padrão é preciso compreender que não existe “a criança padrão”. Existe a Carolina, existe o Pedro, o Benjamin, a Olivia… E que cada uma destas pessoinhas conseguirá explorar o mundo (a escola) quando o medo do desconhecido for neutralizado – e isto acontece quando se estabelecem relações afetivas seguras para que pouco a pouco a criança se abra para o novo.

Como pode haver espaço para o novo ou para aprender quando não nos sentimos seguros? A figura da professora de referência é essencial aqui – é ela que irá começar com seu filho uma relação. Aliás, chamá-la pelo nome e não de “tia” ajuda a individualizar ainda mais a relação dela com o seu bebê. Falar dela e da escola de forma positiva e confiante ajuda o bebê a sentir segurança. Assim como chamar a mãe pelo nome ajuda a construir uma conversa entre dois adultos e não deixa esta mãe apenas na função maternal.

Para algumas mães é essencial o exercício de se manter consciente para não misturar ou projetar as próprias angústias com as vivências que ela vê o filho ter ali durante o período de adaptação. Lembrem-se de que é preciso dar espaço ao bebê e passar confiança na instituição que você escolheu. Já vi momentos em que foi mais difícil para a mãe falar tchau do que para o bebê e vi também situações onde a adaptação foi sabotada por conta disso.

Mães, lidem com seus sentimentos sejam eles quais forem, pois assim vocês ajudam seus filhotes. Se preciso, procurem ajuda. Não existe regra de dias de adaptação e como bem disse Myrtha Chokler, o primeiro elemento de desrespeito acontece ao dizer “a esta altura fulano já deveria estar adaptado” – uma criança não nasce “devendo estar” nada!

Assim como os adultos, as crianças pequenas também têm seus altos e baixos, um dia estão mais seguras, outros menos e assim vamos seguindo tentando oferecer à elas uma parte da segurança que elas têm em casa. Mas como? Num primeiro momento o bebê ainda precisa da mãe (ou outra pessoa quando a mãe não pode adaptar) para sentir-se seguro.

Afinal, como construir segurança na insegurança (sem a mãe)? Mas depois, com sensibilidade e tempo, ele vai entender que pode SIM estar seguro mesmo a mãe estando longe. Mas este é um segundo momento, quando a professora foi criando laços com seu filho e ele fez um vínculo com ela. Isso é adaptar. Uma arte, a arte de aguardar.

Foto: Yan Krukov no Pexels

O papel de professores e escolas na adaptação escolar

Gostaria de trazer mais detalhes que podem ajudar neste processo. Talvez este texto interesse mais aos profissionais da área, mas é importante que os pais saibam os motivos pelos quais a escola faz o que faz. No começo da vida escolar os esforços da equipe estão voltados para criar vínculos e ajudar a criança a unir as experiências que ela tem em casa ali no coletivo.

Isto não é brincadeirinha, distração, etc. Quando trabalhamos com a primeira infância, estamos à serviço de uma construção social e psíquica bem sólida e isto é muito sério. É através dos cuidados da professora que a criança vai sentir-se segura para estabelecer relações com o grupo não só durante a adaptação, mas também na vida em coletividade e a professora encarnará a segurança das crianças.

A creche/pré-escola é um lugar para aprender a viver e conviver e ali vai acontecer a socialização primária da criança. É por isso que sempre escrevo que a pessoa que ESCOLHE esta profissão tem o DEVER de estudar e aprofundar-se no desenvolvimento infantil, suas relações em grupo e como se fazer presente na vida das crianças sem passar por cima delas, sem exigir delas aquilo que não estão prontas para dar. Requer estudo e supervisão. Enquanto enxergarmos a profissão da primeira infância como um trabalho menor ou menos importante, estaremos estagnados na educação do país.

Se uma criança estiver com dificuldades de estar na escola ou no grupo é importante dar acolhimento, ter compaixão e empatia por ela, que ainda está em desenvolvimento. Dizer: “você não está na sua casa e aqui as coisas não são assim” não ajuda um aluno, isto o divide internamente ainda mais. Ajudar alguém a se adaptar a um novo ambiente não precisa ser feito de maneira tão opositiva, tão radical.

Precisamos unir as experiências ’casa-escola’ e não separá-las. É muito difícil para a criança escutar frases deste tipo, isto a deixa ainda mais angustiada e pode a desorganizar psiquicamente. Percebem a delicadeza desta profissão? É importante ser dócil mesmo diante dos momentos mais difíceis. Não devemos tentar calar o choro, mas trabalhar na causa dele, encontrar recursos para ajudar a criança a sentir que ela está segura e que poderá ser feliz e competente.

Para isso devemos nos manter bem presentes, narrar algumas situações ajuda o profissional a não se desligar e divagar mentalmente enquanto cuida da criança. Porém, na hora livre, que todos os bebês e crianças devem e merecem ter, a profissional precisa saber estar presente sem interromper, disponível sem intromissão. A grande protagonista é a criança, não a professora.

Já vivi momentos no tanque de areia onde poderia estar cantando e batendo palmas, “mostrando serviço”, mas quanto desrespeito teria sido! Anos atrás, na adaptação de uma pequena estrangeira, que não falava nem inglês muito menos português, aprendi como o silêncio, os olhares e a gentileza podem tocar muito mais o coração de uma criança.

Durante uma rodinha de leitura, ela preferiu virar-se de costas para o grupo e segurava um livro de ponta cabeça. Eu poderia ter “incluído” ela de volta na roda, mas isso não teria sido uma inclusão e sim um afrontamento à dificuldade que ela estava sentindo de estar ali. Poderia ter virado o livro na posição correta para lhe mostrar “como se faz” ou mostrar que eu me importava com ela, mas isso teria sido um desrespeito ao trabalho mental que ela está desenvolvendo.

Num breve momento em que trocamos olhares, ela me deu um sorriso, um laço foi criado. Sem barulho, sem estardalhaço, só com respeito. Mesmo quando aos olhos de quem passasse por aquela sala tudo parecesse ao contrário! Com este relato, espero finalizar o post mostrando como é importante debatermos esses assuntos, como se faz necessário o apoio não só à criança, mas ao professor. Precisamos nos fortalecer e isso acontece estudando e dividindo experiências!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Por quê o choro causa tanto medo nos pais?

Na coluna Pais em Ação, da Daniela Nogueira, a famosa birra já foi tema. No entanto, o choro, parte da birra, está presente em outros momentos e parece difícil de administrar. Por quê o choro causa tanto medo nos pais? Entenda aqui:

Foto: Anna Shvets no Pexels

Por que o choro causa tanto medo nos pais?

“É doloroso ouvir um bebê chorando. Adultos tendem a reagir de forma exagerada ao choro de uma criança. Por quê? Porque chorar muitas vezes desperta memórias dolorosas de nossa própria infância, levantando questões de abandono e medo. Talvez, como bebês ou crianças pequenas, nós não tínhamos permissão para chorar e fomos distraídos ou repreendidos quando o fizemos. As lágrimas de nossos filhos muitas vezes desencadeiam [de forma inconsciente] em nós essas memórias enterradas de raiva, desamparo ou terror, levando-nos de volta aos primeiros anos. A mensagem do nosso bebê [que seria passada justamente através do choro] pode então se confundir com nossos próprios problemas. Tente ouvir seu bebê para ouvir o que ele está dizendo.” – Magda Gerber.

Recentemente tenho falado muito sobre choro nos aconselhamentos. Seja o choro da adaptação escolar, do acordar no meio da noite ou o de puro protesto mesmo. Essa frase da Magda nos entrega um mapa do tesouro: é com o choro e através dele que muitas vezes chegamos na solução.

Para os pais, é através do entendimento de que as lágrimas dos filhos causam gatilho na própria alma e que escutar o filho pode ajudar a curar as feridas da infância já passada. Para os bebês e crianças pequenas, muitas vezes será através do choro que a calma voltará, que o assunto difícil surgirá e que conversas serão possibilitadas.

Eu percebo uma movimentação em torno de fazer o choro parar o quanto antes pois ele mexe com a vulnerabilidade que nós tivemos e ainda temos cravada no peito. Deixem as lágrimas virem, queridos pais. Pois no fundo, elas mais curam do que machucam.

Foto: Pixabay

O choro como parte do processo de mudança

Uma criança tem de se encontrar com suas lágrimas. Na verdade, todos nós temos. E a falta desse encontro, que é causada tanto pelas nossas defesas quanto pela fobia de lágrimas da nossa cultura, cria um círculo vicioso maligno. Quanto mais você se defende de sentir tristeza, decepção e os outros sentimentos importantes para sua saúde mental e vida digna, mais você cria barreiras de defesa que, na verdade, endurecem o seu coração.

Ao ter o coração duro você vive a ilusão de estar seguro contra a vulnerabilidade; afinal, amar, se importar e cuidar deixam qualquer um na posição de poder ser ferido pelo outro. O que não percebemos – e precisa ser posto em palavras, é o ciclo vicioso: quanto menos vulnerável eu me torno, menos sentimentos difíceis eu experimento e menos eu me abro para um processo vital na vida: adaptar-se.

Os humanos são as criaturas mais adaptáveis que existem, mas nós não nos adaptamos a não ser que exista uma situação que nos force a isto. Um confronto com aquilo que não tem jeito. Por exemplo: “você vai ganhar um irmãozinho/vovó está doente/vamos mudar de país”. Na psicologia do desenvolvimento, a adaptação é chamada de ‘mudança profunda’ – é o processo pelo qual nós somos transformados, no qual precisamos nos adequar a algo que nós não podemos transformar.

Diante do que eu não posso mudar, mudo eu! Aceitamos a realidade e não só isto, nos tornamos resilientes e aprendemos que podemos viver e lidar com isso. Não adianta apenas saber destas coisas, é preciso ter sentido no coração a impossibilidade de mudá-las.

Isso requer adaptação, não é uma adequação superficial, mas um processo significativo e muito importante para a continuidade da vida com saúde. E o processo não acontece nas ideias, mas nas emoções: e quem dirige a área desta adaptação no cérebro é o sistema límbico. Quando a criança se dá conta da realidade que não irá mudar, esse sistema manda um sinal neurológico para as glândulas lacrimais e os olhos marejam e o choro chega. Ele tem que chegar, é natural.

Se você se defende (ou o filho) para nunca sentir vulnerabilidade, tristeza e frustração por aquilo que não tinha jeito, você impede o processo. Deixe seu filho ter os encontros dele com as lágrimas!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Educar os filhos: um caminho de respeito

Educar os filhos pode, às vezes, parecer uma missão impossível. O cansaço, o medo e as inseguranças podem abalar os pais durante o caminho. Por isso, Daniela Nogueira, do Pais em Ação, traz em sua coluna uma reflexão sobre o lado dos pais no cuidado com os filhos. Confira:

Um caminho de respeito

Foto: Gustavo Fring no Pexels

Sabe o que eu queria que vocês guardassem no coração? Que não existe técnica ou metodologia perfeita para ser pai e mãe. Em um mundo tão polarizado como estamos vivendo, é fácil se perder na infinidade de informações que existem por aí sobre todo e qualquer assunto – na maternidade não seria diferente.

Então, o que eu sempre digo nos meus aconselhamentos é: saibam o que são cuidados de alta qualidade para crianças pequenas e entendam quais são as verdadeiras necessidades físicas, emocionais e cognitivas de um bebê. Se perguntem o que existe de mais respeitoso nos cuidados e nos serviços oferecidos.

Creio que este é um excelente ponto de partida, pois já sabemos que não basta ter amor ou ser ”ótima com crianças” – é preciso respeito. E para os profissionais é preciso também formação contínua. Partindo daí, veja o que é possível na sua casa, veja o que bate com seus valores e com o humano que você quer educar.

O melhor presente que podemos dar aos nossos filhos é nos sentirmos competentes para cuidar deles. E certamente o conhecimento nos ajuda a adquirir a confiança necessária para encarar os desafios do desenvolvimento infantil.

Deixo com vocês um trecho do livro “Dear Parent: caring for infants with respect”, da autora Magda Gerber, que ainda não existe tradução para o português:

“Meu objetivo é que você realmente entenda o que quero dizer. Daí você fica com o que gosta e rejeita o que não gosta. Mas isso é que é tão difícil: o entendimento [do que é educar com respeito]. É fácil dar conselhos, mas se bons conselhos funcionassem, seríamos todos perfeitos. Não espero que você ou qualquer outro pai/mãe seja um super-humano. Só espero que os princípios do RIE [método educacional] lentamente se tornem parte da sua consciência, do seu pensamento e das suas ações e que, eventualmente, quando eles realmente se tornarem parte de você, eles sirvam como as suas próprias diretrizes internas. Essas diretrizes internas podem lembrá-la gentilmente sempre que você der uma escorregada para “tentar novamente”, o que significa usar um pouco mais de paciência, empatia e sensibilidade na próxima vez.”

Me digam, é ou não é um excelente ponto de partida?

Como mães, pais e cuidadores não é fácil estarmos atentos aos pequenos detalhes tão necessários para educarmos bem com respeito. Mas essa energia enorme que estamos investimos ao escolher educar as crianças assim, trará seus frutos!

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa?

Na primeira coluna do ano, Daniela Nogueira, do Pais em Ação, reflete sobre um desafio das famílias: como criar filhos com apego em uma sociedade que nos separa? O desafio de estar presente, criar laços e participar ativamente da vida dos filhos parece ainda maior quando precisamos passar cada vez mais horas trabalhando. Como organizar isso? Quais os efeitos dessa dinâmica para as famílias? Confira:

Foto: Vlada Karpovich no Pexels

Os filhos precisam da presença dos pais

Vivemos numa cultura que afasta os pais dos filhos e dificulta para a sociedade o cuidado dos nossos pequenos (e grandes) como eles merecem. O trabalho tem engolido os pais, as escolas só faltam oferecer dormitórios, o mundo virtual encanta e entorpece e, para adicionar pressão, existe uma ideia atualmente de que criança tem mais é de estar com outras crianças o máximo de tempo possível. Não tem não. Não o máximo de tempo. Crianças e adolescentes ainda precisam muito da influência e companhia de seus pais.

“O real problema da humanidade é o seguinte: temos emoções paleolíticas, instituições medievais e uma tecnologia divina”, disse Edward O. Wilson. Isto que dizer que para o cérebro humano e suas relações, não importam a mensalidade escolar, o device tecnológico e quão distraídas as pessoas estão. O bebê humano ainda é o mais imaturo das criaturas e precisa de adultos em volta, principalmente seus pais.

Não somos mais uma sociedade de caçadores e coletores, mas nosso cérebro ainda funciona assim. Se você não cuidar do seu bebê humano, ele, que foi gerado para fazer apego, irá se apegar em outro lugar – este lugar tem sido, para muitos, o grupo de amigos e a internet. Só pode dar erro! A relação de dependência que uma criança vive precisa de um adulto numa posição Alpha sobre ela, que banque o que significa amar e cuidar.

Uma outra criança ou adolescente não terão o que é preciso para bancar isto para o seu filho e é aqui onde tudo desanda. Ao mesmo tempo somos atolados por informações dizendo que nada é mais importante para o desenvolvimento do seu filho quanto uma boa escola (de preferência bilíngue), cada vez mais cedo e claro, o grupo de amigos. Só que os que pregam isso não levam em conta a evolução humana, sua psiquê e a teoria do apego.

Pais desatentos estão perdendo seus filhos dentro de casa e dentro das escolas. Estamos criando uma geração de abandonados domésticos. Encorajo vocês a lerem o livro “Agora não Bernardo” de David McKee, pois apesar de ser um livro infantil, ele nunca foi tão propício aos pais.

A importância do apego na família

Em nossa cultura há uma intensa preocupação dos pais com os filhos no que diz respeito à eles “pertencerem” ao grupo de amigos. Porém, ao estudarmos a relação de attachment e suas funções na vida de um indivíduo, vemos que a criança e mesmo o adolescente, precisa, antes de mais nada, pertencer aos pais. Entendam o sentido do pertencimento não como os pais sendo os donos da criança, mas como nós sendo os grandes provedores de significado, de mostrar-lhes o quanto são importantes, de sentir conosco uma sensação de unidade.

Isto tem de vir de nós, pois se vier do grupo – que será tão imaturo quanto seu filho, ele estará sujeito à cancelamentos e rompimentos a cada erro cometido, e isto é uma receita pronta para criar pessoas inseguras. Então, antes de pensar sobre o grupo, pense sobre o relacionamento do seu filho com você. Temos de cuidar do apego que nossos filhos têm conosco.

Isso mesmo, que ELES sentem, que eles têm conosco – nosso trabalho é que eles sintam que nós somos o porto seguro, nós não cancelamos, nós não rejeitamos. Até que eles estejam formados, somos nós a fonte mais importante de conexão deles.

Quem cuida é o alpha, que provê, e a criança é a que depende e busca por nós. Entendem a importância de um bebê até um adolescente continuar se sentindo cuidado? Ele não precisará buscar apego em outro lugar – que muitas vezes não terá cuidados para dar. O apego e intimidade emocional cria um escudo onde é seguro para a criança liberar e sentir seus mais profundos sentimentos. Nossa cultura já não cuida mais desta questão, a vila se espalhou e se despedaçou, então precisamos nós mesmos nos atentarmos para este assunto.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | Crianças são pessoas e merecem respeito

Na coluna de hoje, Daniela Nogueira, do Pais em Ação traz uma reflexão importante: crianças são pessoas. O que isso implica? Quando deixamos de ver nossos pequenos como pessoas? Por que esperamos certos comportamentos deles que não são compatíveis com sua realidade? Esses e outros pontos são abordados por Daniela na coluna. Confira:

Foto: Andrea Piacquadio no Pexels

CRIANÇAS SÃO PESSOAS

Desde o primeiro dia! Elas não precisam crescer primeiro para só depois merecerem nosso respeito, “de gente grande para gente grande” – criança é gente desde sempre.

Elas são literalmente nosso futuro. Se você maltrata hoje, colhe amanhã.

Por favor, abra sua mente para entender que, se ferir uma criança – ignorar, bater, punir – não irá fazer deste mundo um lugar melhor. Pois acredite, muitas crianças passam por isso diariamente há séculos. Ainda assim, temos sempre a impressão de que o mundo anda ficando pior, de que as pessoas se tornaram frias, de coração duro e não sabem amar.

Ainda assim, os humanos nascem, crescem, dão a luz à novos humanos e a birra, a manha, a impulsividade e a imaturidade permanecem. Será que não é tempo de pensar que se as estratégias de “desprezoterapia”, cantinho do pensamento, retirar brinquedos, punir e bater em crianças funcionassem, todas as birras e comportamentos afins já teriam cedido?

Caros pais, a criança faz birra não porque ela não tem limites, não porque você não os educa, mas simplesmente pelo fato de ser criança! De não ter todo o cérebro pronto para usar.

A imaturidade se parece muito com a falta de respeito e as birras na infância. O errado não é a criança fazer birra, o errado é não entender que o ser humano leva TEMPO para aprender a se controlar, se regular e seguir regras sem ter uma explosão de impaciência, frustração e inflexibilidade.

Ah, tão pouco tem a ver de que classe social a criança é, se ela é criada pela avó, mãe solteira ou dois pais: crianças humanas fazem birras. Umas mais, outras menos, depende do temperamento delas.

Criança já nasce gente, mas precisa de anos para se socializar e ser capaz de escutar um não sem berrar. Devemos sim falar ‘não’ para elas! Já conversamos aqui sobre as diferenças da disciplina e do castigo. Só não precisamos criar a falsa expectativa de que elas já são adultas para saberem como lidar. Só não precisa ser grosseiro, frio e massacrar. De novo o problema não é o berro, mas o que você faz com ele: cede ou educa? Cala ou bate? Ignora ou ajuda?

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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