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Pais em Ação | Rejeição: como apoiar e fortalecer as crianças rejeitadas

Rejeição não é algo fácil de encarar, mesmo na fase adulta. Para os pequenos, o desafio é maior: estão descobrindo esse sentimento, seus impactos e vivendo tudo pela primeira vez. Por isso, cabe aos pais e educadores saber como apoiar os pequenos para que eles se fortaleçam apesar do cenário negativo. Nossa colunista, Daniela Nogueira, reflete sobre o tema na coluna de hoje. Confira:

Foto: Norma Mortenson no Pexels

Rejeição e autoestima

Recentemente uma mãe entrou em contato comigo pedindo ajuda com um assunto que é muito doloroso para qualquer ser humano: a rejeição. Se dói na gente, imaginem ver o filho nesta situação?

É um daqueles momentos onde a mãe educadora deve prevalecer à mãe protetora e com grande sacrifício guardamos para mais tarde os sentimentos de coitadinho (leia-se: isso deve ficar entre nós adultos) e nos embuímos de coragem e poder. Nosso papel como pais não é o de ir até lá e resolver os problemas dos filhos, mas, sim, de preparar as crianças para lidarem com as situações sociais que a vida traz.

Em primeiro lugar, nossa atitude ao ver ou escutar, deve ser a de empoderamento da criança rejeitada. Tomando cautela para não colocá-la no papel de “pobre coitada”: superprotegendo-a e nem a bajular com elogios vazios. Usar o encorajamento ao lidar com as emoções ao invés de tentar alegrar logo a criança mostra que apesar de dolorida, a rejeição e outros problemas, podem ser manejados.

Vou começar com a autoestima. Ser rejeitado é algo que abala qualquer um, porém quando a autoestima vai bem e a criança tem forte a crença de que ela tem valor mesmo quando as coisas não dão certo, ela passará pela dor da rejeição, irá processar estes sentimentos e sair deles com dignidade. Não dá para excluir a parte ruim da vida, não conseguiremos estar atrás dos filhos a vida toda, mas podemos criá-los bem!

Autoestima não se compra nem dá pra emprestar, é algo que vamos trabalhando nos pequenos no dia a dia, especialmente em duas situações: quando eles fazem algo errado ou algo muito bom. Seu filho precisa saber que mesmo cometendo um erro ele é digno: de respeito e de ter outra chance.

Precisa saber que errar, derrubar algo, perder a compostura, bater, ir mal na prova da escola, fazer xixi na cama, ser rejeitado no play do prédio, NADA disso muda a pessoa que ele é e que a está se tornando. Na semana passada, nós conversamos sobre os elogios e como usá-los corretamente!

Foto: Josh Willink

Rejeição e empatia

Outra maneira de ajudar o filho ou o aluno que está sofrendo por causa de uma rejeição é oferecer empatia. Palavra tão comentada atualmente e que tem um significado profundo e transformador. Hoje em dia são muitas as fontes de informações destinadas aos pais sobre validar o sentimentos dos filhos e ajudar a nomeá-los, porém durante os aconselhamentos que faço, os pais relatam não saber o que fazer ou que não têm conseguido alcançar um lugar de tranquilidade com o filho.

Oferecer empatia vai além de se colocar no lugar da criança, de tentar compreender o que ela está sentido e dar um nome a esse sentimento: empatia também requer aceitação. A aceitação completa e genuína de que neste momento as coisas não vão bem na vida da criança e consequentemente, na nossa.

Os sentimentos (e o motivo que os causa) são o que são e aceitá-los significa que iremos lidar com eles ao invés de tentar fazê-los desaparecer. Os sentimentos têm começo, meio e fim; não há raiva, tristeza e nem alegria que dure pra sempre, com isso em mente fica mais fácil resistir à tentação de tentar livrar a criança (e nós mesmos) de passar por um momento ruim, no caso a dor e o desconforto da rejeição.

As crianças são extremamente inteligentes e seres humanos com alta sensibilidade, sabem quando estamos aflitos, com pressa de resolver as questões e este é o ponto que quero chegar sobre a empatia. Ela precisa ser praticada com autenticidade. Não adianta só falar “Poxa, você está triste” na esperança e na intenção que o choro passe, que a dor vá embora logo. Elas sentem isso e muitas vezes o tiro pode sair pela culatra, podem ficar ainda mais chateadas e frustradas.

Isso porque não se pode usar a empatia como uma técnica. Ela só funciona genuinamente! Pois na verdade o que está em jogo não são as palavras dos pais ou professores, mas, sim, a CONEXÃO emocional. Outro ponto importante é sobre COMO ajudar a nomear os sentimentos, pois nesta hora acontecem muitas projeções dos pais em cima dos filhos.

É essencial que a gente diga “você PARECE triste” e deixe um silêncio, um tempo de resposta para o que o filho confirme se é tristeza que ele estava sentindo ou se na verdade era raiva, por exemplo. Dê o seu melhor palpite e deixe a criança confirmar ou te corrigir. Muita hora nessa calma. Perdoem o trocadilho!

Oferecer empatia ensina às crianças que elas têm condições internas e externas para lidar com os altos e baixos da vida. Esse sentimento de empoderamento é que vai ajudar a criança durante a rejeição e como eu disse anteriormente, isso é feito no dia a dia e não na hora que riram do seu filho e ele não participou da brincadeira no pátio.

Continuando, uma vez que a gente acertou o que o pequeno está sentindo, podemos descrever a mágoa: “você estava contando que iam te chamar para brincar. Você queria que os amigos fossem mais gentis e legais.” Valide/reconheça os sentimentos e a situação, seja sincero e genuíno, não tente disfarçar a rejeição: “É difícil ser deixado de fora. É duro passar por isso/ É horrível quando riem da gente.”

E aqui vem a chave de ouro: “Você pode lidar com isso.”.

Neste momento, se conecte com a criança, eu usava muito a respiração com meus alunos. Respirar profundamente acalma a ansiedade e o stress, diminui a pressão arterial, relaxa os músculos, etc. Conte com a respiração nessas horas e durante o dia a dia também para que no momento de dificuldade a criança já esteja habituada a respirar profundo e esse é um presente que ela levará consigo para o resto da vida!

E poderá usar quando nós não estivermos lá para ajudar, por isso lembrem de praticar. Se a criança aceitar, ofereça um abraço. Se durante tudo isto seu filho chorar ainda mais, saiba que vocês estão no caminho certo. Chorar lava a alma, cura feridas, alivia angústias e a empatia e nosso apoio ajudam a criança a se apropriar dos problemas da vida dela e lidar com a realidade. Isto as coloca numa posição mais saudável e com mais poder para seguir em frente solucionando os problemas que aparecem.

Foto: Artem Podrez no Pexels

Rejeição e autorreflexão

Quero falar da importância de ajudar a criança a fazer uma autorreflexão! Ajudá-la a pensar sobre o que ela mesma pode estar fazendo que, de alguma forma, contribui para afastar os colegas e também o que ela pode fazer para mudar isso.

Vou dar um exemplo que aconteceu em sala de aula anos atrás com uma garotinha de 3 anos e meio. Ela era simpática, autêntica e inteligente, mas não se interessava por alguns aspectos de aparência e higiene que já incomodavam os colegas dessa idade. Vivia com o dedo no nariz ou com as mãos molhadas de terem sido postas na boca e o cabelo desgrenhado.

O que aconteceu é que após repetidas vezes sendo rejeitada para dar a mão nos deslocamentos pela escola, nas brincadeiras do pátio e trabalhinhos de mesa, ela finalmente veio falar comigo: “Dani, ninguém quer dar a mão pra mim!” e lá ia o dedo pra dentro do nariz!

Me lembro da nossa conversa: “Eu sei o porquê! Seus amigos gostam de você, o problema é que ninguém gosta de caca de nariz! Nem de mão molhada de baba. Eu mesma quero dar a mão pra você para irmos para a biblioteca, mas não quero encostar no dedo que foi no nariz. Seus amigos são crianças pequenas também, mas já percebem essas coisas. Eles gostam de mãos limpinhas.”.

Ela abriu um sorriso enorme, acho que ficou aliviada. Trabalhem isso no dia a dia com as crianças, a aparência geral bem cuidada é respeito com o próprio corpo e também com os outros. Ali começou um processo para essa garotinha em busca de suas amizades e no entendimento de algumas regras sociais.

Outros exemplos sobre ajudar a criança a olhar para ela mesma como participante do que acontece à sua volta são quando o filho/aluno fala certas coisas que magoam os colegas, quando cometem o “sincerocídio”. As crianças não aceitam de bom grado certas ofensas em grupo, é importante ensinar que devemos ser verdadeiros mas acima de tudo devemos ser humanos!

Junto com a famosa lição de não falar mentiras, nós educadores temos o dever de ensinar que não se deve falar tudo que se pensa em certas ocasiões ou corre-se o risco de perder alguns colegas e atrair a antipatia. Não é porque as crianças são pequenas que elas deixam de se encaixar nas regras de bom senso e convívio social. E o modo como se fala representa um espaço enorme em como os outros recebem nossas palavras. Vale a pena trabalhar isso com os pequenos.

Atitudes que também chateiam crianças e com isso elas podem excluir um colega são: exibir-se demais, contar vantagem o tempo todo, reclamar de tudo, humor fora de hora e, principalmente, não entender e não respeitar o sinal de que o colega não está gostando. Ter a percepção que o outro não gostou é essencial na vida.

Como vocês podem ver são sutilezas de alto impacto e que desenvolvem responsabilidade pessoal e empatia. Lembrem-se de acolher estas crianças usando compaixão e fornecendo a elas as habilidades que depois poderão usar sozinhas.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Nutrologia | Quais os melhores alimentos para iniciar a Introdução Alimentar?

A Introdução Alimentar é um tema que gera muitas dúvidas. Por isso, convidamos nossa colunista e pediatra Dra Giuliana Taralli (CRM-SP 131796) para falar um pouco sobre a Introdução Alimentar: quais alimentos oferecer, como começar e mais! Confira:

Foto: Vanessa Loring no Pexels

Como iniciar a Introdução Alimentar

É chegado o tempo de oferecer outros alimentos além do leite materno. O bebê já está sentando com apoio e mostra interesse no que os pais e os mais velhos ao seu redor estão levando à boca.

E aí, Dra, por onde devemos começar? Pelo começo, claro! Brincadeiras à parte, o primeiro passo é escolher o caminho que você e seu bebê vão seguir entre os métodos: BLW (Baby Led Wining), Papa tradicional e Participativa (uma mistura dos dois outros métodos). Depois, está na hora de preparar os alimentos!

Independente do método deve-se oferecer os principais grupos alimentares:

Proteínas

  • Carne animal (de vaca, porco, peixe ou frango)
  • Vegetal (leguminosas como feijão, lentilha, ervilha e outros)

Cereais e tubérculos

  • Arroz
  • Cuzcuz
  • Cuzcuz marroquino
  • Macarrão
  • Batata
  • Mandioquinha e outros!

Legumes

  • Abóbora
  • Abobrinha
  • Berinjela
  • Vagem
  • Inhame
  • Cará e outros!

Verduras

Folhas escuras, como:

  • Espinafre
  • Escarola
  • Catalonia e outros!

Frutas

No caso das frutas, use sempre as da estação! Elas são mais doces e mais saborosas. Além disso, você garante uma variedade de ofertas ao longo do ano.

O prato ideal na Introdução Alimentar

Os elementos no prato devem ser sempre variados, mas conter todos os grupos citados acima. Um exemplo de prato é: arroz, feijão, carne, legumes e “salada”.

O lanche também deve variar: não ofereça a mesma fruta de manhã e de tarde! Você pode, por exemplo, oferecer maçã de manhã e laranja na parte da tarde.

E, claro, sempre ofereça muito leite (seja materno ou fórmula)! Até o primeiro ano de vida do bebê, o leite deve ser seu principal alimento.

O importante na IA é qualidade e não quantidade. O bebê está aprendendo a movimentar os músculos da face de maneira diferente, a morder com a gengiva, depois com os dentes. Além disso, está se adaptando aos sabores e texturas diferentes.

Ter calma, manter a neutralidade e a paciência são as chaves de sucesso para uma introdução adequada, feliz e que traz boas relações com a comida.

O que ofereço primeiro?

Você começa com o que tem em casa! E vai variando o máximo possível para que a experiência de sabores e texturas seja a mais completa.

Mas e as alergias? Não é melhor segurar alguns alimentos?

A resposta é não! Os estudos demonstram que a exposição precoce a alimentos alergênicos como peixe, nuts (castanhas) e derivados do leite são mais protetores que oferecer mais tarde.

E nada de retirar alimentos porque contém leite, derivados ou glúten. Bebês precisam de alimentação variada para seu desenvolvimento! Deixe as restrições para aqueles que precisam e se beneficiam delas, combinado?

E ofereça orgânicos sempre que possível. Infelizmente em nosso país não há controle de pesticidas e suas toxicidade. E, pasmem, os alimentos mais consumidos são os que possuem maior quantidade de tóxicos.

Até a próxima,

Dra. Giuliana Taralli é pediatra apaixonada por nutrir e alimentar. Formada em pediatria pela Faculdade de Medicina do ABC, onde se apaixonou pela área de nutrologia. Fez residência médica em Nutrologia Pediátrica pela UNIFESP. Trabalha na área de prevenção e obesidade e se especializou em Obesidade e Medicina do Estilo de Vida no centro de Healthy Lifestyle – University of Tennessee. Adora trabalhar comportamento alimentar saudável, e sonha com um mundo em que alimentação desde a barriga seja o caminho para evitar as doenças futuras.
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Pais em Ação | Elogios: como usá-los corretamente?

A Dani Nogueira, do Pais em Ação, traz hoje uma reflexão sobre os elogios. Como devemos elogiar os pequenos? Elogiar demais pode ser um problema? Leia a coluna e veja mais sobre o ponto de vista da nossa colunista:

Foto: Josh Willink no Pexels

O elogio como uma recompensa preciosa

Usado de maneira assertiva o elogio é um meio poderoso de aumentar a chance das crianças repetirem boas ações. Elogios são recompensas preciosas para os pequenos desde que não se tornem vazios de significado, ditos a todo momento e a qualquer oportunidade.

Acho importante dizer aos pais que autoestima saudável NÃO se constrói com elogios, mas sim com nossas ações diárias de respeito pela criança, sua autonomia e tudo o que envolve sua vida. Então como elogiar de modo produtivo e educativo? Aqui vai a regra de ouro: Elogie o COMPORTAMENTO ou a atividade específica que aconteceu e não a criança.

Por exemplo: depois que o filho guardou os brinquedos no lugar, faça um elogio descritivo: “Uau, a sala ficou toda arrumada! Você fez um ótimo trabalho guardando os brinquedos no lugar!”. Esta frase tem mais informação, mais direção do que fazer novamente e é mais eficaz para os filhos do que dizer generalizações vazias de conteúdo, como: “Que princesa linda você é!” ou “Que menino bonito, guardou tudo!”.

O motivo é que sendo descritivo os pais oferecem no elogio informações que ajudam e orientam a criança a ampliar sua confiança. E, dessa forma, alcançar novos patamares de competência.

Como elogiar para incentivar

Imagine a situação do pai assistindo o jogo de futebol do filho. Quando o garoto marcou o gol e foi comemorar com o pai este lhe disse: “Muito bem filho, você chutou a bola no canto do gol na hora certa!”. Essas palavras reforçam à criança as ações corretas que ela fez, vão ajudá-la a se lembrar disto no próximo jogo e, assim, com confiança, adquirir novas aptidões.

E se o pai tivesse dito:”Aê filhão, você é o melhor! É um campeão mesmo, o próximo Lionel Messi do mundo!”? Estudos (Carol Dweck) sugerem que uma vez que as crianças tenham internalizado esse tipo de elogio, elas verdadeiramente acreditam que são “o máximo” naquilo em que foram elogiadas. Isso faz com que se esforcem menos para a tarefa na próxima vez (afinal, se elas já são “naturalmente” talentosas, para que se esforçar?) e elas ainda tentam evitar tarefas mais desafiadoras que empregam essas habilidades no futuro com medo de não corresponderem às expectativas.

Para facilitar o elogio descritivo, pense num verbo, por exemplo: “obrigada por ter emprestado seu brinquedo” ou “você fez seu dever de casa com muito capricho e atenção, ficou muito bom!” ou “Gostei que você jogou seu palito de sorvete no lixo!”.

Atenção ao extremismo tão comum na parentalidade: não é pra deixar de elogiar autenticamente o filho, o motivo de aprender mais sobre elogios e desenvolvimento infantil é para nos ajudar na tarefa de criar pessoas saudáveis, autônomas de pensamento e ações e livres para agir no mundo sem medo de errar ou perder sua autoimagem por conta dos riscos que decidem tomar.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.
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Pais em Ação | A importância do brincar livre e autônomo

Há algumas semanas, Dani Nogueira trouxe uma reflexão sobre as necessidades dos pequenos na primeira infância e como isso nos ajuda a escolher entre creche, escolinha e babá. Um dos pontos que nossa colunista levantou foi a necessidade da criança ter tempo para brincar livremente – sem interferência dos adultos no processo. Para entender mais sobre essa necessidade e como estimular esse brincar nos pequenos, confira a nova coluna do Pais em Ação:

Foto: Tara Winstead no Pexels

A importância do brincar

Brincar constrói a vida psíquica e é estruturante. Criança precisa brincar! Cuidem para que seus filhos tenham tempo suficiente para isto. O verdadeiro brincar é livre e auto induzido, senão transforma-se em atividade ou exercício – o que não tem nada demais, mas não é o verdadeiro brincar.

Tente pensar do ponto de vista de uma criança pequena e ao preparar um ambiente, deixe-o mais clean – sem muitas cores, barulhos e quantidade -, deixe alguns objetos e brinquedos dispostos de maneira que atraiam as crianças.

Anos atrás observei em silêncio uma descoberta do Bernardo, meu filho. Temos um banco comprido com ripas de madeira na sala e eu coloquei entre os espaços algumas baquetas de plástico. Be passou uns 10 minutos ininterruptos mexendo nelas, observando como se moviam nos espaços entre as madeiras, fez isso tanto pelo lado de cima, como por debaixo do banco. Ele subiu e desceu desse banco diversas vezes, testou outros movimentos e estava profundamente curioso e interessado. Então, por um certo período, sempre que eu preparava a sala para ele brincar eu deixava as baquetas ali para que, caso ele tivesse interesse, pudesse usá-las novamente.

Só depois que as crianças cansarem e forem para outro local é que devemos começar a guardar os brinquedos dando exemplo do que fazer. Não “arrume” a bagunça de um bebê enquanto ele brinca ou você corre o risco de interromper um raciocínio! Espere seu filho acabar o que está fazendo.

Outro dia ele e a irmã estavam jogando pedrinhas na água de um lago, depois de jogarem diversas vezes, fiz uma pergunta: “o que acontece na água depois que joga a pedra? Aparecem umas ondinhas.” Silêncio. Mais pedras arremessadas. Be observa e diz: “olha como fica grande!” sobre as ondas que se propagam pela superfície da água.

Apoiar uma criança em suas descobertas é um trabalho sério, é preciso aprender a não interromper, saber quando perguntar e mais ainda, quando calar. E assim permitimos que os pequenos construam foco, atenção e aprendizado significativo. Como disse um dos homens mais inteligentes do mundo, brincar é a forma mais elaborada de pesquisa! (Enquanto escrevia me questionei por que eu mesma respondi a minha pergunta da água!).

Como estimular esse brincar nas crianças?

Segundo Magda Gerber (educadora e expert em desenvolvimento infantil) os melhores objetos de brincar para bebês são aqueles que os permitem ser tão ativos e competentes quanto possível em todas as fases do desenvolvimento.

Para se sentir competente, nada melhor do que deixar o pequeno descobrir os objetos e quais formas de usar o brinquedo por conta própria! Eu sei, a tentação de “explicar” tudo às crianças é enorme, mas vê-los descobrindo as coisas é muito recompensador.

Para ser ativa a criança é quem precisa fazer o brincar. Seja abrindo e fechando a tampa de um potinho, montando blocos, amassando papel ou mesmo usando um objeto de forma diferente para o qual ele foi planejado. Enfiar o braço do ‘senhor cabeça de batata’ no nariz, por exemplo. Virar a cozinha de madeira de ponta cabeça e brincar com a parte do fundo ao invés da de cima. Misturar as cores das massinhas, não usar o freio de mão da bicicleta e brecar com os pés no chão, usar um bloco de madeira como telefone…a lista é infinita!

O importante é a criança liderar a própria maneira de brincar e de investigar o mundo através da sua curiosidade. Por isso aqueles brinquedos cheios de botões e luzes, tablets e afins não são os mais indicados, pois o bebê vira apenas um expectador, ele só precisa apertar um botão e o objeto brinca sozinho.

Quanto mais um brinquedo, tablet ou uma pessoa fizer durante a brincadeira, menos a criança terá oportunidade de fazer por conta própria, cada vez mais ela sentirá a necessidade de ser entretida pelo objeto ou adulto. A grande vantagem do brincar de forma independente é que estamos dando aos pequenos oportunidade de serem criativos, auto-confiantes e capazes, além de dar aquele tempinho livre para os pais.

Isto não quer dizer largar a criança num cômodo sozinha, quer dizer deixá-la direcionar a brincadeira sem a nossa interrupção para mostrar “como se faz” ou nossos constantes comentários. Às vezes, um olhar da mãe/cuidadora já basta. Ofereça os objetos comuns da casa ou brinquedos e deixe a brincadeira desenrolar naturalmente.

Até a próxima coluna,

Daniela Nogueira.

Daniela Nogueira é psicóloga de formação e educadora de coração. Aprofundou seus estudos sobre a primeira infância na abordagem Pikler pela Associação Pikler-Lóczy França (APL) em Paris e nos fundamentos do RIE, em Los Angeles, EUA. Idealizadora do Pais em Ação, projeto que apoia pais e mães na educação dos filhos oferecendo aconselhamento personalizado, domiciliar ou online, com um olhar de profundo respeito pela criança e sua infância. Daniela está envolvida no universo infantil há mais de 18 anos com experiências em co-educação nos EUA, trabalho terapêutico em instituições para crianças desabrigadas de suas famílias e atuação como professora na educação infantil em escolas particulares de São Paulo e Rio de Janeiro. Além do aconselhamento parental, ministra palestras e workshops ao vivo e online para escolas, empresas e grupos maternos. É mãe orgulhosa de casal de gêmeos de 5 anos.

 

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Nutrologia | Entenda o que é nutrologia e sua importância

Na sua primeira coluna para o site, a pediatra Dra Giuliana Taralli (CRM-SP 131796) nos apresenta a importância do assunto central da sua coluna: a nutrologia! Confira abaixo tudo o que você precisa saber sobre o tema e como funciona a alimentação para os pequenos nos primeiros mil dias:

Foto: August de Richelieu

A importância da nutrologia

A alimentação começa no útero. Naquele espaço de tempo que todo bebê divide com sua mãe e recebe os nutrientes em sistema all inclusive via placenta. Após o nascimento, essa responsabilidade se divide entre a nova mamãe e o pediatra.

A alimentação sempre fez e sempre fará parte da pediatria! Afinal, é no primeiro ano que iniciamos a arte de nutrir e durante a infância que prevenimos “catástrofes” na vida do adulto.

A nutrologia surgiu dessa necessidade de se aprofundar mais no mundo da alimentação e prevenir que os adultos adoecessem. Com esse monte de erros alimentares e produtos ultraprocessados da vida moderna, nada melhor que um pediatra especializado em alimentar e nutrir nosso futuro.

Os mil dias

Os mil dias são a soma dos 270 dias da gestação aos 730 dias pós-parto – ou seja, até que o bebê complete dois anos de idade. Nesse período, acontece o maior estirão de crescimento do ser humano, o cérebro humano cresce 80% da sua capacidade e a alimentação da mãe tem efeitos diretos no peso do bebê e no aparecimento de doenças no futuro.

A nutrição na gestação hoje é vista como uma extensão dos primeiros anos do bebê. O aumento de peso exagerado na vida uterina, ter diabetes gestacional ou uso de dietas restritivas pode ter efeitos diretos no peso de nascimento do bebê e no desenvolvimento das conexões do cérebro.

Para vocês terem um bom exemplo dessa importância, esse ano houve uma mudança na recomendação de ferro para os bebês – as mães que tiveram o ferro bem controlado durante a gestação, sem anemia ferropriva (aquela provocada pela deficiência de ferro) e com suplementação adequada, podem iniciar o ferro para seus bebês mais tarde, e não aos 3 meses de idade como recomendado anteriormente pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

Outra recomendação bem famosa e que gera brigas familiares em todos os encontros com menores de 2 anos é o não consumo de açúcar de adição, aquele que adicionamos na alimentação. Os estudos recomendam que proteger as crianças nessa fase da vida melhora o desenvolvimento cognitivo, o que gera novas conexões cerebrais e, principalmente, protege contra o aumento de peso e doenças com o diabetes mellitus, infarto e derrame cerebral.

Alerta importante: eu sempre gosto dizer que não é porque o bebê fez dois anos que pode liberar o consumo de açúcar sem nenhum cuidado! O consumo de açúcar de adição deve ser controlado durante toda a vida. Na infância, não ultrapassar 25g/dia (mais ou menos 2 colheres de sopa rasas- vale lembrar que um copo de suco natural de 100ml já tem metade do recomendado).

Então, mamães, vamos cuidar da nossa alimentação desde a barriga, uma dieta adequada, saudável e rica em nutrientes fundamentais para o bebê crescer saudável e bem nutrido.

Até a próxima,

Dra. Giuliana Taralli é pediatra apaixonada por nutrir e alimentar. Formada em pediatria pela Faculdade de Medicina do ABC, onde se apaixonou pela área de nutrologia. Fez residência médica em Nutrologia Pediátrica pela UNIFESP. Trabalha na área de prevenção e obesidade e se especializou em Obesidade e Medicina do Estilo de Vida no centro de Healthy Lifestyle – University of Tennessee. Adora trabalhar comportamento alimentar saudável, e sonha com um mundo em que alimentação desde a barriga seja o caminho para evitar as doenças futuras.
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